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Invasão Zumbi
Invasão Zumbi
Filmes com zumbis não nos faltam, dos bons e dos ruins. O próprio tema parece apresentar cansaço com tantas continuações de Resident Evil, por exemplo, que em 2017 trará mais uma aventura. Isso sem falar na televisão, onde The Walking Dead já vai para a oitava temporada. É impressionante, no entanto, como eles conseguem ainda nos prender a atenção, principalmente, quando a obra é bem feita como Invasão Zumbi.
Um dos grandes trunfos do filme de Sang-ho Yeon é a própria estrutura que, ao contrário dos filmes norte-americanos, não busca poupar seus protagonistas, nos deixando em constante tensão. Aliás, os asiáticos sempre parecem construir obras mais cruas de terror, o que ajuda no gênero. Não há tantos sustos, a ideia é nos deixar sempre com a emoção à flor da pele, em suspensão, sem saber o que nos espera.
A história gira em torno de um empresário e sua filha. Ele, workaholic, quase não tem tempo para dar atenção à criança que quer passar o aniversário com a mãe em Busan. Após alguma relutância, Seok-woo pega um trem com a garotinha, acreditando que daria tempo para voltar no mesmo dia para mais uma reunião de negócios. Mas nada acontece como planejado.
Como o filme já nos mostra em uma cena inicial bastante impactante, o mundo está em pleno apocalipse zumbi. E no meio da confusão uma pessoa infectada acaba entrando no trem sem ser notada. É o bastante para criar o caos em plena viagem, aumentando de uma maneira vertiginosa o número de infectados no local.
É interessante perceber que apesar de beberem na fonte de George Romero, cada obra tem sua liberdade criativa para inventar as regras do seu próprio mundo e criatura. Aqui, animais também podem se tornar zumbis. E eles são bastante ágeis, ao contrário dos seres de The Walking Dead, por exemplo. Há uma questão com a luz também que parece uma muleta do roteiro para ajudar os protagonistas, mas não deixa de ser necessária. É preciso dar alguma esperança para o espectador, senão fica difícil embarcar na ideia.
Isso não quer dizer que temos a certeza da sobrevivência daqueles por quem o filme nos faz criar empatia. Nada parece muito certo e a cada nova situação, vemos as transformações das expectativas. É como se estivéssemos ali com eles, torcendo para sobreviver, mas sem nenhuma certeza disso.
É curioso também a maneira como o roteiro, apesar de não poupar ninguém, constrói um sentimento de necessidade de compaixão e ajuda mútua em tempos de crise. Seok-woo, por exemplo, a princípio só quer salvar ele e a própria filha, mas, aos poucos, vai se transformando, até pelos apelos da pequena. Ao mesmo tempo, o diretor nos mostra os desafios da manutenção da humanidade diante de situações tão extremas. O ponto de vista de um empresário de ônibus egoísta e desesperado até o fim faz o contraponto com o grupo de sobreviventes solidários. Uma determinada cena, em específico, é bastante forte, e o filme é corajoso em construir um desfecho ainda mais impactante para aquilo.
Talvez, o único senão seja mesmo esse empresário Young-suk. Não por ser egocêntrico e criar uma situação extrema dentro do vagão 15. Mas sua personalidade acaba sendo maniqueísta demais, há um certo exagero em suas atitudes posteriores, completamente irracionais. E o desfecho de sua personagem acaba contradizendo tudo isso de uma maneira um pouco forçada, as próprias regras do mundo ali parecem ficar mais frouxas.
De qualquer maneira, é um filme extremamente competente naquilo que se propõe. Injeta adrenalina nos espectadores e fazendo-os embarcar naquele desespero, sem ser uma aventura apenas de correria. Emoções e sensações diversas são acionadas, assim como ainda resta tempo para pensar na humanidade e suas escolhas mesquinhas, ou não. Um belo exemplar para encerrar o ano.
Invasão Zumbi (Busanhaeng, 2016 / Coréia do Sul)
Direção: Sang-ho Yeon
Roteiro: Sang-ho Yeon
Com: Yoo Gong, Soo-an Kim, Yu-mi Jung
Duração: 118 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Invasão Zumbi
2016-12-26T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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