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O Nascimento de Uma Nação
O Nascimento de Uma Nação
Em 1915, D. W. Griffith lançou o polêmico "O Nascimento de Uma Nação", filme que de certa maneira marcou a história da linguagem cinematográfica por trazer muitas das técnicas que estavam sendo desenvolvidas, mas que também era uma obra extremamente racista. O filme, entre outras coisas, narrava o nascimento da Ku Klux Klan e utilizava "black face", ou seja, atores brancos pintados para interpretar personagens negros.
Em meio a luta pela afirmação racial e após a polêmica do Oscar branco, Nate Parker tenta reescrever a história dessa nação pelo outro ponto de vista. Utilizando propositadamente o mesmo título, ele traz um filme também extremista para contar a saga real de Nat Turner, um líder negro de um movimento rebelde em busca de liberdade para o seu povo.
É possível compreender que para quebrar uma situação extrema, atitudes extremas são necessárias. Mas acaba nos fazendo perguntar se é o melhor caminho. Nat nasceu escravo de uma fazenda que ele considerava boa. Seus "donos" não usavam de violência em comparação aos demais e ele foi acolhido pela senhora da casa que "até" o ensinou a ler, algo inimaginável para um escravo na visão dos brancos da época. Ainda que ela só lhe permitisse ler a Bíblia, pois os demais livros eram para brancos e "sua espécie não entenderia". Assim, ele cresceu pacífico, acreditando que era essa a melhor atitude. Mais do que isso, Nat se tornou pastor, apaziguando suas ovelhas diante das atrocidades sofridas pelos escravos, pois eles teriam o reino dos céus.
Nesses extremos, o filme se constrói. A atitude passiva, que é diferente de uma atitude pacífica. E a atitude reacionária, agressiva. Nos dois extremos Nate Parker nos apresenta um mundo maniqueísta onde brancos são maus e negros são bons, ainda que capazes de vinganças sangrentas. E sabemos que o mundo não é exatamente assim. Ainda que o período de escravidão africana tenha sido, de fato, um absurdo ainda em processo de desconstrução. Tanto que o racismo, infelizmente, ainda é uma realidade viva em nossa sociedade.
O problema do filme de Parker não é isso. É que a obra parece apenas uma desforra sem ponderar o próprio conteúdo. O diretor utiliza de recursos fáceis para chocar a plateia com imagens de violência que, de fato, incomodam, mas muitas vezes parecem vazias. A estrutura do roteiro nos leva a acompanhar com atenção um capataz que é o grande inimigo do pai de Nat e depois do próprio escravo pastor, o que nos parece sem sentido por simplificar a situação tornando-a pessoal. E, com isso, o que poderia ser uma resposta à altura acaba se tornando quase infantil.
O que não quer dizer que o filme seja completamente vazio. Levanta questões e nos tira da zona de conforto, observando a própria condição humana, ou desumana, de nossa história nos levando à reflexão. Questiona também a própria função da religião que tantas vezes foi utilizada como instrumento de controle e medo. Desde a Idade Média os padres faziam isso e ainda hoje vemos a maneira como muitos religiosos deturpam as palavras do Cristo para conformar os fiéis.
Após a euforia da estreia no Festival de Cinema de Sundance, a carreira do filme não parece tão promissora quanto apontada no início do ano, tanto que não aparece entre os favoritos do Oscar. Em parte por causa da polêmica envolvendo o diretor e estrela, e seu co-roteirista em um caso de estupro e suicídio da vítima. Da mesma maneira que a luta contra o racismo, a luta pela valorização da mulher cresce na sociedade e fica mais difícil separar obra e artista.
Independente disso, O Nascimento de Uma Nação é um filme controverso, mas que traz qualidades técnicas e estéticas. E nos faz pensar. Algo que parece raro na indústria hoje em dia.
O Nascimento de Uma Nação (The Birth of a Nation, 2016 / EUA)
Direção: Nate Parker
Roteiro: Nate Parker, Jean McGianni Celestin
Com: Nate Parker, Armie Hammer, Penelope Ann Miller, Aja Naomi King, Aunjanue Ellis
Duração: 120 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
O Nascimento de Uma Nação
2016-12-06T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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