
Livros de auto-ajuda estão sempre na categoria de manipulação de emoção. Palavras-chave, jargões, fórmulas prontas. Tudo soa falso, essa é a verdade. E fazer um filme com essa mesma estrutura acaba não funcionando tão bem, ainda que com um elenco tão talentoso.
Will Smith é o rapaz que precisa de ajuda. Perdeu sua filha de seis anos e está em um processo de auto-destruição. O curioso é que os três amigos e sócios dele, interpretados por Edward Norton, Kate Winslet e Michael Peña parecem mais preocupados com o futuro da empresa que com a própria saúde mental do amigo. E, no final das contas, o roteiro acaba tentando ajudar os quatro em suas questões.

O roteiro de Allan Loeb possui vários truques para parecer mais complexo do que é de fato, o que o torna pedante. E as próprias figuras da morte, amor e tempo estão nesse programas de efeitos. Não sabemos exatamente o que são, ou se são. O filme parece querer deixar um tom místico no ar. O fato é que há "coincidências" nas duplas formadas na missão "Howard". Claire, personagem de Kate Winslet, que quer ser mãe, mas já sente o peso da idade, lida com o tempo. Simon, personagem de Michael Peña, que tem uma doença incurável, lida com a morte. E Whit, personagem de Edward Norton que está com problemas com a filha, lida com o amor.

O roteiro quer deixar tanto a impressão de que é complexo e profundo, criando inclusive falsas reviravoltas tolas que podem ser facilmente descobertas ou supostas por alguns espectadores, que esquece do principal: ser verdadeiro. No sentido de realmente construir uma história que toque o coração dos outros, como Keira Knightley explica para Edward Norton no seu primeiro contato com ele. Ela muda uma frase que ele criou, falando que aquilo é bom, mas apenas no racional, enquanto que a versão dela "bate" no coração.
Isso não quer dizer que não existam bons momentos no filme, ou mesmo cenas emocionantes. Tem, principalmente quando lidamos com o amor de um pai por uma filha e a dor da perda. Os atores conseguem passar essa emoção, estão bem em cena. Mas falta esse link verdadeiramente emocional que é mais simples do que a tentativa rebuscada que o filme quer passar.
Beleza Oculta acaba sendo um filme pretensioso. Ele quer parecer tão emocionante e libertador que acaba se aprisionando em fórmulas frágeis e manipulações rasas de emoções. Você pode até chorar em alguns momentos, mas logo vai perceber que fica um vazio depois. Um filme que fala de emoções, mas falta exatamente essas emoções autênticas.
Beleza Oculta (Collateral Beauty, 2017 / EUA)
Direção: David Frankel
Roteiro: Allan Loeb
Com: Will Smith, Edward Norton, Kate Winslet, Michael Peña, Helen Mirren, Naomie Harris, Keira Knightley, Jacob Latimore
Duração: 97 min.