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Tom Kemp
Manchester à beira-mar
Manchester à beira-mar
A capacidade de superar grandes traumas é algo complexo na psicologia humana. Alguns conseguem seguir em frente de maneira aparentemente mais fácil, seja se apegando a alguma fé ou mesmo tratamento psicoterapêutico. Outros ficam presos ao passado e tentam fugir dele de todas as maneiras, mas parece sempre algo inútil já que o problema é interno e não externo.
Lee Chandler, personagem de Casey Affleck e protagonista de Manchester à beira mar, está na segunda opção. Seu passado o assombra de uma maneira tão intensa que ele é quase um homem zumbi vivendo sua rotina estressante de zelador de quatro prédios onde faz de tudo um pouco. Seus momentos de lazer são para beber cerveja no bar ou assistir jogos na televisão, mas qualquer coisa é motivo para que ele estoure facilmente. Tudo piora quando Lee recebe a notícia de que seu irmão Joe faleceu e agora ele terá que cuidar de seu sobrinho Patrick retornando à cidade de onde fugiu.
O roteiro de Kenneth Lonergan é bastante hábil em nos contar essa história de Lee de maneira não linear. Acompanhamos a jornada de morte do irmão, providências, testamento e tutoria intercaladas pelas lembranças do protagonista que vão nos guiando e fazendo compreender aos poucos o porquê dele ser assim e não querer permanecer em Manchester. Não fica didático, pelo contrário, tudo é muito orgânico. E o principal motivo para isso é o fato de serem lembranças que assombram Lee.
Retornar a Manchester é reabrir feridas. Cada espaço que ele chega, algo vai sendo recordado. E vamos tendo a dimensão da complexidade daquela personagem que parecia apenas mais um problemático de pavio curto. É interessante ir juntando as pistas também dos comentários na cidade como os jovens no hóquei que falam "esse é a lenda"? Ou uma cena quase solta de uma mulher que diz para o funcionário que não quer mais Lee ali.
A narrativa busca o seu próprio tempo, acompanhando a jornada de Lee sem pressa. Temos uma longa apresentação de personagem com ele atendendo diversos clientes, temos momentos de pausa, com a personagem apenas olhando com olhar perdido, repetições de situações que sempre vão acrescentando algo, como a cena do barco no passado ou o ensaio da banda de Patrick. Um filme de mais de duas horas, mas que não fica cansativo por saber nos fazer imergir naquele universo.
Tudo é muito bem dosado emocionalmente e estamos colados a Lee, acompanhando seu crescimento e sua angústia. E nisso é preciso destacar o mérito de Casey Affleck que consegue nos passar tudo isso quase sem nenhuma fala. Seu olhar, sua expressão facial e corporal, pequenos gestos dizem tudo. E quando ele grita a verdade para Patrick, nos sentimos gritando junto como se disséssemos, "pô, garoto, como você ainda não percebeu"? Vale destacar que Lucas Hedges também defende bem "o garoto". E que Michelle Williams, apesar de quase não aparecer, consegue nos emocionar em duas cenas extremamente fortes, sem cair no "dramalhão".
Manchester à beira mar é isso, emoção bem dosada. Não daquelas que quer nos emocionar a qualquer custo, mas que, naturalmente, nos faz sentir o impacto da dor da incapacidade de conseguir superar uma experiência ruim.
Manchester à beira-mar (Manchester by the Sea, 2017 / EUA)
Direção: Kenneth Lonergan
Roteiro: Kenneth Lonergan
Com: Casey Affleck, Michelle Williams, Kyle Chandler, Lucas Hedges, Tom Kemp, Ben O'Brien
Duração: 137 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Manchester à beira-mar
2017-01-18T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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