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Moana: Um Mar de Aventuras

Moana: Um Mar de Aventuras - filme

Toda a publicidade de Moana girou em torno do fato de termos aqui uma "princesa" sem príncipe. Não que isso seja novidade, principalmente depois de Valente e Frozen. Mas o que chama a atenção em Moana é toda construção do feminino da trama e suas simbologias, inclusive com a deusa Te Fiti que tem seu coração roubado e era quem "criava" tudo no mundo.

Moana não é uma princesa como ela mesma replica. É a filha do chefe de uma ilha na Polinésia e sua sucessora natural. Isso já é uma mudança. Ela é a sucessora natural e esperada, não precisa casar com ninguém para isso. Só que sua avó lhe conta lendas que falam sobre o roubo do coração da deusa Te Fiti pelo semi-deus Maui que criou um desequilíbrio e uma nuvem sombria. A jovem quer partir oceano acima, para resolver esse problema, mas seu pai acredita que tudo isso é bobagem e que só a ilha basta a seu povo.

A construção de Moana como uma garota destemida e fascinada pelo oceano desde pequena é extremamente feminista. Ela pega um barco e vai atrás de seu destino e mesmo quando encontra Maui não deixa que ele tome conta da situação. Sim, ele a ensina, mas ela está no comando. E mesmo ele sendo egoísta e grosseiro muitas vezes, reconhece a força da garota. Há várias cenas simbólicas disso. Ambos trocam papéis e salvam-se mutuamente durante a jornada. E sua resolução vai além do esperado, fazendo a trama crescer ainda mais em mudanças de paradigmas.

Moana: Um Mar de Aventuras - filmeO que não muda são as músicas, sempre presentes em animações da Disney. Algumas muito boas, outras cansativas, principalmente no início quando parece haver um exagero na quantidade das mesmas. Não por acaso, após a primeira aparição de Maui ele fala que, se ela cantar, ele vai fugir. Uma piada que acaba surtindo efeito, pois os números musicais diminuem e ficam mais orgânicos na trama.

Um problema talvez seja a ligação de Moana com o Oceano, o elemento parece se tornar um coringa e uma "muleta" do roteiro. Em alguns momentos, a jovem tem que agir por si mesma, em outras ele a ajuda, nos dando a sensação de que toda a aventura poderia ter sido resolvida mais rapidamente. Não fica muito claro o porquê das ajudas tão pontuais. Mas, claro, que a jornada de aprendizado dela era necessária. Assim como o crescimento da relação de cumplicidade com Maui. Porém, não deixa de incomodar que toda vez que parece que não vai ter jeito, o oceano chega e dá uma mãozinha.

Moana: Um Mar de Aventuras - filmeDe qualquer maneira, a trama tem um bom ritmo e a técnica consegue superar as animações anteriores. Os cenários são impressionantes, realistas, grandiosos e cheios de texturas que nos fazem sentir serem reais. Os objetos também parecem palpáveis, ricos em detalhes, tudo muito bem pensado e construído. E as personagens são também bastante vivas e com movimentos incríveis.

Agora o que encanta mesmo em Moana é sua mitologia e a maneira como tudo se resolve. O mar de aventuras que está no desnecessário sub-título brasileiro não traduz a verdadeira pérola escondida no roteiro. As camadas são bem mais profundas. Trazem quebras de maniqueísmo, feminismo, força da natureza, espiritualidade, tudo de uma maneira tão rica e harmônica que encanta. Uma animação que merece ser vista por todos.

P.S. (1) Tem uma cena pós-créditos, engraçadinha, ainda que não faça grande diferença para sua experiência.

P.S. (2) O curta-metragem que antecede o filme é Trabalho Interno (Não confundir com o documentário). Uma jornada singela que utiliza os órgãos do corpo humano para discutir o que vale a pena nesse mundo. Que adianta cuidar da saúde, andar na linha, sem se arriscar, se podemos passar a vida em um trabalho repetitivo e exaustivo?


Moana: Um Mar de Aventuras (Moana, 2017 / EUA)
Direção: Ron Clements, John Musker, Don Hall, Chris Williams
Roteiro: Jared Bush
Duração: 107 min.

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