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Sete Minutos Depois da Meia-Noite
Sete Minutos Depois da Meia-Noite
Seja no suspense O Orfanato ou no drama Impossível, uma característica que parece saltar os olhos na estilo de J.A. Bayona é a maneira como lida com a emoção. Às vezes de forma exagerada, é verdade, mas em Sete Minutos Depois da Meia-Noite tudo isso parece fazer mais sentido, pensando na ótica de um garoto que está prestes a perder a mãe e nunca teve de fato um pai.
A narração inicial já o define, velho demais para ser uma criança, novo demais para ser um adulto. A pré-adolescência talvez seja a fase mais complexa de nossa vida. Quando estamos formando, de fato, nossa personalidade, construindo nossos passos e referências. Conor é esse garoto que, com a mãe doente e o pai morando em outro continente, tem que lidar com seus medos e aprender a conviver com sua avó materna que considera quase uma inimiga. Criativo, ele expressa suas emoções através de desenho e é a partir deles que vive uma experiência mágica.
Todos os dias após a meia-noite, ele recebe a visita de um monstro que lhe promete contar três histórias e depois ele terá que contar a quarta, que é a "sua verdade". O que Bayona faz é criar uma fábula adulta sobre personalidade e posicionamento no mundo. Através de três lições básicas que se tornam essenciais para aquilo que o garoto está tendo que lidar: a morte iminente da mãe. Não é fácil lidar com o sofrimento, mas o mais difícil é conseguir discernir os próprios sentimentos contraditórios em situações tão radicais quanto as que vive.
O ponto alto da composição dessa fábula é a maneira como ela nos é narrada. Em uma animação estilizada que lembra uma aquarela vamos visualizando o que o "monstro" conta ao garoto. O efeito estético é impressionante e nos envolve de uma maneira aconchegante e bela. Embarcamos naquele mundo de fantasia buscando as mensagens para nós mesmos, já que há sempre uma ironia crítica nas tramas que nos fazem rever valores e julgamentos próprios.
O fato de nos demonstrar, ainda que de forma didática, que não existe bem ou mal absolutos e que precisamos aprender a lidar com os problemas que se apresentam em nossa frente é forte. Somos frágeis emocionalmente e estamos sempre querendo fugir de problemas em vez de enfrentá-los. Problemas psicológicos, então, nem se fala. É muito mais fácil admitir precisar de um cardiologista que de um psiquiatra até pelo julgamento da alcunha de "louco" que nossa sociedade ainda tem. O homem tem que ser forte e não demonstrar fraqueza.
Encarar a verdade de nossa alma, como o "monstro" faz Conor encarar, então, é ainda mais intenso. Temos medos de nossos desejos e sentimentos. Nos culpamos por muitas coisas, o mundo está repleto de "pecados" antigos ou modernos. E somos julgados a todo momento. Temos isso, inclusive, principalmente em um mundo imerso em redes sociais online atuais onde tudo parece uma grande vitrine de um reality show constante. É difícil encarar o espelho dessa maneira, nos acostumamos às máscaras que criamos.
Sete Minutos Depois da Meia-Noite é capaz de nos fazer mergulhar em todos esses questionamentos ainda que não explicite boa parte deles. Seu roteiro é construído por etapas de aprendizado, de maneira esquemática, como fases a serem cumpridas. Mas esconde a profundidade das próprias etapas da vida. De maneira clichê, é verdade, com as situações no colégio ou mesmo o pai separado com outra família que só quer o filho como visita. Ainda assim, eficaz.
A maneira como mistura realidade e fantasia também é bem construída. Principalmente nos momentos em que ficamos nos perguntando sobre o limiar dos acontecimentos, quando Conor experimenta um momento de destruição por exemplo. Ou uma catarse extrema de revidar o sofrido. Guarda as devidas proporções, é curiosa a maneira como ele acaba dialogando com outro filme que mistura criança, fantasia e realidade: O Labirinto do Fauno. Só que aqui, as metáforas não mais explícitas. De qualquer maneira, um belo filme.
Sete Minutos Depois da Meia-Noite (A Monster Calls, 2017)
Direção: J.A. Bayona
Roteiro: Patrick Ness
Com: Lewis MacDougall, Sigourney Weaver, Felicity Jones, Toby Kebbell, Liam Neeson (CGI)
Duração: 108 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Sete Minutos Depois da Meia-Noite
2017-01-11T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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