A Tartaruga Vermelha
Parceria do estúdio francês Wit com o famoso estúdio japonês Studio Ghibli, A Tartaruga Vermelha é um filme especial em diversos aspectos. Não por acaso está na lista dos cinco concorrentes ao Oscar de animação desse ano.
Sem um único diálogo a obra é uma jornada de auto-conhecimento e paciência através de metáforas. Um homem náufrago, que não sabemos exatamente como foi parar no meio do mar, chega a uma ilha deserta e nela tenta sobreviver ao mesmo tempo em que tenta fugir dali. O filme abre margens para tantas interpretações que podemos nos perguntar até mesmo se, de fato, ele saiu de lá alguma vez e a cena que vemos dele no meio da tempestade não é mais uma das tentativas de fuga.
Talvez a chave maior seja o que é a ilha. Uma metáfora da própria vida? Uma representação de seu eu interior? As leis naquele universo não parecem muito claras quando uma enorme tartaruga surge, derrubando a nova embarcação do homem e mais à frente se torna uma mulher, que, com ele, compartilha a vida. Tudo construído de uma maneira tão natural que não dá margem nem para questionar.
A tartaruga é um símbolo forte, já que representa o humano e o cósmico ao mesmo tempo. Por viver muitos anos, é relacionada à sabedoria e também à concentração. Ela chega na vida do homem quando ele está mais perto de fugir da ilha. E se torna mulher quando ele começa a se conformar com o seu destino. Tentar pensar A Tartaruga Vermelha apenas com os olhos racionais pode nos deixar sem respostas.
O filme é uma jornada também para o espectador. O silêncio, a ausência de explicações e os acontecimentos em um tempo próprio nos fazem embarcar junto com o protagonista em sua busca. Tudo é muito poético, belo, delicado. Mesmo as piadinhas com os siris são ingênuas e pontuais. O clima é todo emocional.
O desenho possui um traço simples, porém extremamente bem cuidado. As paisagens paradisíacas da ilha são lindas, as cores vivas e forte do dia, contrastam com o tom azulado da noite nos deixando sempre com uma apreciação estética. As cenas no fundo do mar, com as tartarugas nadando também são muito bonitas. E mesmo um maremoto que pareceria assustador vira poesia nesse universo.
Como boa parte das animações japonesas, A Tartaruga Vermelha é um mergulho espiritual e psicológico intenso, com imagens simples e fortes ao mesmo tempo em que nos envolve e encanta.
A Tartaruga Vermelha (La tortue rouge, 2017 / França / Japão)
Direção: Michael Dudok de Wit
Roteiro: Pascale Ferran, Michael Dudok de Wit
Duração: 80 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
A Tartaruga Vermelha
2017-02-22T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
animacao|critica|drama|Michael Dudok de Wit|oscar 2017|
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