
Desde a primeira cena, Ove nos causa uma reação ambígua que perpetua por toda a narrativa. Um homem ranzinza, reclamão, o estereótipo do "velho chato". Mas, ao mesmo tempo, adorável, envolvente e com uma empatia única. Essa é a verdade, não conseguimos desgrudar da tela desde o primeiro instante.
O roteiro é hábil ao nos apresentar esse homem e suas "neuroses", construindo aos poucos seu passado. Talvez a fórmula de flashback a cada tentativa de suicídio canse, mas acaba funcionando quando subvertida, deixando a narrativa mais orgânica. A maneira como cria-se um suspense sobre sua esposa Sonja, o que aconteceu com ela e quando, também ajuda na imersão na obra, principalmente pelo fato de só vermos fotos dela jovem.

Indicado ao Oscar, na categoria de filme de língua estrangeira pela Suécia, a obra é um tratado sobre a humanidade e uma forma específica de viver naquele país. Ele consegue lidar com uma comunidade de um condomínio, com a velhice e a doença, com os imigrantes e a força das crianças, com o que é certo e o que é errado. Tudo a partir de uma história simples de um homem também simples e sua trajetória.

Essa escolha narrativa de primeira pessoa acaba influenciando na própria estrutura do filme. Nos apegamos a Ove e suas escolhas. Mesmo quando ele parece apenas um velho ranzinza. E vamos desvendando por trás de sua casca dura, como na cena em que ele começa a se aproximar das crianças, lendo um livro com "voz de urso".
Apesar de discutir a questão da velhice, da falta de respeito ao idoso ou ao deficiente. Da própria incapacidade de se colocar no lugar do outro. Tudo de maneira simples, com exemplos claros. Um Homem Chamado Ove é sobre Ove. Essa personagem instigante, complexa e cheia de camadas que vamos amando, dando risada e nos irritando a cada nova atitude desse adorável velho ranzinza. Um filme, de fato, encantador.
Um Homem Chamado Ove (En man som heter Ove, 2017 / Suécia)
Direção: Hannes Holm
Roteiro: Hannes Holm
Com: Rolf Lassgård, Bahar Pars, Filip Berg, Ida Engvoll
Duração: 116 min.