
Muitos filmes já foram feitos sobre o holocausto. O que a obra de László Nemes parece trazer de diferente está na maneira como adentra esse cenário obscuro da história mundial. Nos mostrando que entre os judeus, também havia uma espécie de hierarquia.
Os sonderkommando eram aqueles escolhidos para trabalhar no campo de uma maneira bastante específica: limpando as câmeras de gás ao recolher e cremar os corpos do local. E, nesse processo, grupos hierárquicos também iam se formando para procurar objetos de valor escondidos. Só essa situação desumana já nos dá um bom material para pensar como o ser humano consegue se colocar em disputa mesmo em situações tão adversas. É quase uma briga de menos pior.

É diante desse cenário tão cruel que a câmera de László Nemes parece querer se fechar cada vez mais para nos dar a mesma sensação de claustrofobia. Mesmo nas cenas externas, os planos nunca são muito abertos. Tudo é muito próximo e incômodo. A fotografia também é bastante escura e ajuda a dar a sensação de espaço sempre sujo, poluído. Além de muito quente.

Na obsessão por dar um enterro digno ao garoto, Saul se desconecta do inferno onde vive, tendo uma missão mais nobre, que, claro, também gera problemas. Isso não parece importar. Ao ser questionado sobre estar colocando em risco a vida do grupo, ele grita ao companheiro: nós já estamos mortos. E não tem muito o que argumentar diante disso, já que é a cruel realidade mesmo daquele lugar, tudo parece ser questão de tempo.
Por isso, Filho de Saul é um filme tão perturbador e impactante. Ele não quer criar falsas esperanças ou mesmo construir um castelo de fantasia diante do caos como A Vida é Bela, por exemplo. Tudo é muito realista e sem doses homeopáticas. O que vale é a experiência de um homem que luta pro um instante de dignidade diante da morte.
Filho de Saul (Saul fia, 2016 / Hungria)
Direção: László Nemes
Roteiro: László Nemes, Clara Royer
Com: Géza Röhrig, Levente Molnár, Urs Rechn
Duração: 107 min.