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Kong: A Ilha da Caveira
Kong: A Ilha da Caveira
Em 2014, o estúdio Legendary Pictures trouxe para as telas uma nova roupagem para um clássico japonês: Godzilla. Agora, novamente em parceria com a Warner Bros., ele nos traz Kong, ainda sem o King para nomeá-lo, em um clima do gênero tokusatsu para uma aventura divertida, com ótimos efeitos especiais, mas que assim como a obra de 2014 tem problemas de roteiro, principalmente na construção de personagens.
É interessante observar nessas novas roupagens de filmes antigos uma certa preocupação da humanidade em se auto-avaliar. Não apenas em filmes de monstros, como também de alienígenas como o recente A Chegada. Somos um povo bélico que temos medo do desconhecido, então, algo diferente sempre será uma ameaça. Temos que nos defender, nos armar, atacar primeiro para não dar chances ao "inimigo".
Com Kong não é diferente. Uma tripulação com uma escolta militar chega à ilha da caveira, um local ainda não mapeado, soltando bombas. A desculpa é que isso ajudará a estudar melhor o solo, segundo cientistas da organização Monarch (sim, ela mesma). Desculpa essa que esconde o verdadeiro motivo para o idealizador da expedição Bill Randa, interpretado por John Goodman. Ele quer despertar o "monstro" Kong e provar ao mundo que não é louco. Aliás, a obsessão dele faz o roteiro ser didático e repetitivo nos relembrando a todo momento isso.
Obsessão também que acomete a personagem de Samuel L. Jackson, mas aqui o bichinho da vingança é o motor. Condizente com sua personagem rasa, Jackson nos entrega um comandante Preston Packard completamente caricato. O que poderia ser uma personagem extremamente rica com as nuanças dos traumas de guerra e vício em adrenalina, ou algo do tipo, acaba se tornando uma caricatura do macho alfa obcecado por vingança. O que salva é a reação dos demais soldados que, aos poucos, começam a questionar as ordens do líder.
Apesar dos estereótipos, Kong se esforça em ser representativo, tem pessoas de diversas raças e dão um jeito de incluir pelo menos duas mulheres na expedição, em plena década de 1970, ainda que as duas não troquem uma palavra sequer. Brie Larson é uma das protagonistas ao lado de Tom Hiddleston e Samuel L. Jackson. Uma fotógrafa que anseia por novos desafios. Já Tian Jing cumpre apenas um papel secundário como uma das cientistas.
A questão é que nenhuma das personagens é aprofundada em cena, talvez um pouco o inusitado capitão Hank Marlow interpretado por John C. Reilly. Ainda que tenhamos alguns detalhes pessoas de alguns, como o soldado Jack Chapman interpretado por Toby Kebbell e as referências a seu filho que acabam se tornando uma espécie de código interno dos soldados para falar dos próprios sentimentos, surtindo um efeito emotivo.
O próprio Kong está um pouco mais duro nessa obra, ainda jovem, como alguém explica, ele ainda vai crescer e tomar consciência do seu papel na ilha, por enquanto, ele apenas protege de maneira automática, sem muitas expressões ou demonstração de emoção além do olhar intimidador e o grito assustador. Curioso também perceber que a obra não faz questão de criar um suspense em relação a ele. Já está lá nos primeiros frames. E logo vemos uma primeira batalha que nos dá até a sensação de que será um curta e não um longa-metragem diante de tamanha violência.
Jordan Vogt-Roberts, em seu segundo longa-metragem, apenas consegue ser bastante competente na composição estética de sua obra. Há uma mis-en-scène bem cuidada, um ponto de vista da câmera que nos faz imergir na ação e um cuidado na decupagem das cenas de luta que não nos deixa atordoados com muitas câmeras tremidas ou cortes excessivos. Temos a dimensão exata da batalha, ainda que em uma sensação de tudo acontecendo ao mesmo tempo. A trilha sonora também enriquece bastante o clima, em uma linha que lembra Apocalypse Now com os helicópteros dando o tom com músicas diegéticas.
Ou seja, ainda que o roteiro tenha problemas, principalmente na construção de personagens, o filme é divertido e bem executado. Os efeitos são bem construídos, alguns impressionantes, ainda que um ou outro falhe, e até mesmo o uso do 3D é produtivo em cenas como uma revoada de pássaros, ou monstros gigantes que atacam dando uma dimensão a mais à apreciação. Kong é, então, um bom filme de aventura. Poderia ser melhor explorado em seu tema humanidade vs instinto vs monstros, mas não deixa de trazer reflexões. E, tem uma cena pós-créditos bem ao estilo "Marvel de ser", com um ganho interessante que os fãs mais atentos já podem imaginar já que a empresa Monarch está por trás de tudo isso.
Kong: A Ilha da Caveira (Kong: Skull Island, 2017 / EUA)
Direção: Jordan Vogt-Roberts
Roteiro: Dan Gilroy, Max Borenstein
Com: Tom Hiddleston, Samuel L. Jackson, Brie Larson, John C. Reilly, John Goodman, Jason Mitchell, Toby Kebbell, John Ortiz, Tian Jing
Duração: 118 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Kong: A Ilha da Caveira
2017-03-10T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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