Baseado no best-seller de William P. Young, A Cabana não engana ninguém. É uma história sobre a fé e uma obra de auto-ajuda. Não dá, então, para esperar muito mais dele do que isso. E dentro de sua proposta, é um filme bem feito.
Muitos reclamaram do tom de doutrinação e algumas questões que pareceram “forçadas”, porém analisem comigo. A personagem de Sam Worthington está passando pelo sofrimento de uma grande perda que o fez questionar e duvidar de Deus. Aí, ele passa um fim de semana em uma Cabana com a santíssima trindade: Pai, Filho e Espírito Santo. Tem como ser diferente?
Na verdade, A Cabana tem até um mérito interessante nesse sentido. Ele não se prende a uma religião, mas à fé. A fé cristã, ok, mas sua doutrina é apenas a lei do amor e do perdão. É esse Deus amoroso, materno, que Mack Phillips (Sam Worthington) encontra na cabana. E um Jesus que se porta como um irmão mais velho e também um terapeuta.
A experiência de Mack é de auto-conhecimento e de aproximação do seu ser divino, tudo ali é simbólico, é construção metafórica para se passar essa ideia de um ser encarando suas feridas para se curar de uma dor profunda e deixar o passado para trás. Libertar-se de suas amarras e daquilo que o prende a pessoas do seu passado, seja o bandido ou seu pai.
Por isso, a história conquistou tantos fãs pelo mundo com o livro e deve conquistar outros tantos com o filme. Ele consegue conduzir bem essa trajetória de mensagem retificadora criando momentos de reflexão e catarse com aqueles que se identificam com a mensagem. Porém, um filme é sempre algo mais que isso. E precisamos analisar também seus pontos fracos.
Ainda que não dê para exigir mais do que a história se propõe, há algumas questões que ficam mais construídas como o próprio protagonista. Falta um pouco de verdade a Sam Worthington, seu sofrimento não parece tão crível em muitos momentos, assim como a reflexão sobre suas questões com Deus. A própria a atitude dele no passado em relação ao pai parece mal explicada, pois teriam consequências psicológicas bem mais complexas.
A história da “Grande Tristeza” também traz furos incompreensíveis. Como todas aquelas pessoas no acapamento não viram nada em uma fração de segundos tão rápida? E que maníaco era esse solto por ali, que ninguém falou antes? Tudo parece jogado simplesmente para não pensarmos muito. É como se o roteirista dissesse: "olha, teve uma tragédia e agora ele tem que recuperar sua crença em Deus, o resto é detalhe." E não deixa de ser, em uma proposta como essa.
A composição dos cenários e situações na cabana também trazem alguns estranhamentos. Como a cena em que Alice Braga participa e talvez seja das mais problemáticas, não exatamente por causa da atriz, mas por toda a situação insólita. Desde o figurino da moça, passando por clipes que Mack assiste. Até mesmo à visão do Paraíso. Tudo nos passa uma sensação armada. Como uma cena em que ele e Jesus correm pela água com uma trilha melosa que nos lembra a estética de um comercial de margarina.
Porém, tudo isso parece detalhe diante da proposta do filme. Octavia Spencer consegue passar essa aura de um deus amoroso preocupado com seu filho. Assim como Avraham Aviv Alush nos dá essa visão de um Cristo bastante humano. Só Sumire Matsubara que não consegue nos passar tão boa impressão, mas sua personagem também é mais ingrata, afinal, o que é o Espírito Santo? É algo muito pouco palpável.
O que fica é essa mensagem de resgate e amor próprio e ao próximo. A necessidade do perdão e de se desapegar de coisas que só nos colocam para baixo. Tudo em uma trama tecnicamente bem feita. Vai agradar seu público e, no final das contas, isso é o que importa.
Direção: Stuart Hazeldine
Roteiro: John Fusco, Andrew Lanham, Destin Daniel Cretton
Com: Sam Worthington, Octavia Spencer, Tim McGraw, Alice Braga, Avraham Aviv Alush, Sumire Matsubara, Radha Mitchell
Duração: 132 min.