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Pitanga - documentário - filme

Há muitos filmes em Pitanga, assim como há muitos papéis em Antonio Pitanga. Ator baiano extremamente atuante no cenário cinematográfico, ele passou por diversas fases e obras do nosso cinema. Conviveu com inúmeros nomes da nossa cultura. Construiu sua história, sem perder suas raízes. Não por acaso, a obra começa com um almoço em família com comida baiana e termina com outro almoço em família, agora com a feijoada carioca.

Dirigido por Beto Brant e a filha do ator, Camila Pitanga, o documentário é um experimento artístico com diversas esferas. Traz cenas de filmes diversos que o ator participou, dialogando com sua rotina atual. Traz cenas de "flagras" familiares, como os almoços ou uma brincadeira com as netas na praia. E traz aquilo que guia o filme de uma maneira inovadora, ainda que não reinvente a pólvora ao não criar depoimentos para a câmera: encontros.

Pitanga - documentário - filmeÉ o próprio Pitanga que guia a narrativa ao encontrar antigos amigos, namoradas, diretores, parceiros de trabalho. Com exceção do momento em que está com sua atual esposa, Benedita da Silva, a câmera parece esquecida. Ali, como testemunha ocular dos reencontros, muitas vezes fortes, emocionados. Como quando reencontramos amigos antigos que não vemos há muito tempo e ficamos relembrando momentos inesquecíveis. Esse é o tom da obra. Estamos ali, ouvindo esses "causos" e sendo confidentes daquelas pessoas.

Isso nos dá uma nova visão da relação de Pitanga com cada um deles, assim como nos faz testemunhar emoções genuínas que um depoimento formal não conseguiria. Há uma intimidade que acabamos compartilhando e muitas vezes até nos surpreendendo, como a doçura de Bethânia com o ator, seu primeiro namorado. Ou a emoção de Hugo Carvana brincando com o amigo. Ou ainda as diversas declarações de amor ao ator, com direito a choros e afagos.

Pitanga - documentário - filmeAs cenas dos filmes, por vezes entram de maneira orgânica, outras parecem gratuitas, mas ajudam a dar a dimensão exata de um ator que passou por diversos marcos da filmografia brasileira, protagonizando muitos deles em uma época em que atores negros eram segregados a coadjuvantes serviçais. A primeira imagem do documentário, inclusive, traz uma espécie de recriação de uma famosa cena sua em Barravento, primeiro filme de Glauber Rocha. Vemos também marcos do cinema baiano como Bahia de Todos os Santos, A Grande Feira, Tocaia no Asfalto e O Pagador de Promessas, que apesar de não ser uma produção baiana foi feito na terra.

Conhecemos um pouco mais do Pitanga galanteador, com suas diversas histórias de amor. E é impressionante como os depoimentos das suas ex-mulheres são extremamente emocionados, demonstrando grande carinho e admiração. Até mesmo quando há lembranças de troca, como quando Zezé Mota conta que estava quase para morar com ele, quando este conheceu Vera Manhães, aquela que seria a mãe de seus dois filhos, Camila e Rocco. "Uma paixão fulminante", lembra a atriz, "ele ficou mudo e quando ela saiu, perguntou: 'quem é essa moça?'".

Por essa força e o formato tão íntimo, Pitanga acaba não sendo um retrato apenas do ator baiano, mas do cinema nacional e do cenário cultural brasileiro dos anos 60 e 70, principalmente. São pérolas recordadas com muita franqueza como a briga dele com Gláuber Rocha e, posteriormente, pazes. E tantas outras histórias que vamos ouvindo ao longo dos mais de cem minutos de projeção. Daqueles documentários gostosos de acompanhar, que merecem ser revisitados e ainda nos dão vontade de rever muitos filmes brasileiros que passaram por nossos olhos.


Pitanga (Pitanga, 2017 / Brasil)
Direção: Beto Brant e Camila Pitanga
Duração: 113 min.

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