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Por Trás do Céu
Por Trás do Céu
Vencedor do prêmio do júri no Cine PE de 2016. Por Trás do Céu é uma obra poética, que lida com o imaginário popular do sertão e brinca com referências diversas. Tem qualidades, mas também seus percalços, assim como o casal Aparecida e Edvaldo.
A trama se centra nesse casal no meio do nada, vivendo de maneira quase miserável, com roupas e objetos construídos com junções de panos e materiais reciclados. Há um flerte com o realismo fantástico, há um tom de cordel nas próprias falas. A própria atmosfera mágica nos permite embarcar nessa ingenuidade exagerada do casal, principalmente de Aparecida, que parece completamente fora do mundo. E tudo fica ainda mais over quando o amigo Micuim volta da cidade grande com presentes como uma garrafa com "o mar" ou uma "resistra"
Porém, os flashbacks começam a nos explicar o porquê desse casal viver ali e os problemas do filme começam. Toda a trama pregressa se torna mais inverossímil que a própria relação do trio com o mundo. Tudo é muito mal explicado e com clichês que tendem a incomodar, principalmente pela atitude de Edvaldo em uma proteção excessiva que acaba trazendo muito do machismo da sociedade e sua "limpeza" da honra. Fora que sempre recorrer para um certo clichê para explicar um problema de uma mulher, cansa.
A outra questão que o flashback levanta é ainda mais delicada, pois toda a ingenuidade que compramos do casal vivendo no meio do nada soa extremamente exagerada, já que eles não viveram o tempo todo ali. A figura da prostituta interpretada por Paula Burlamaqui traz um pouco desse baque de realidade e o local onde ela vive não é muito diferente de onde o trio vivia antes do exílio. Então, fica realmente inverossímil essa relação tão fora do mundo.
Ainda assim, de alguma maneira, esse sonho ingênuo de Aparecida, interpretada por Nathalia Dill, de conhecer o que existe "por trás do céu" é gostoso de acompanhar. Traz esse lirismo, lembra em alguns pontos o tom de A Máquina, de João Falcão, ou mesmo O Auto da Compadecida, de Suassuna, que já foi duas vezes adaptado para os cinemas. O sonho de conhecer a cidade grande também é compreensível, assim como o medo de Edvaldo em deixar que sua "passarinha" ganhe asas. Esse apego excessivo que o faz lidar como se ela fosse uma posse a ser cuidada e preservada incomoda, mas é condizente com um homem do sertão como ele. E Emílio Orciollo Netto defende bem sua personagem.
Já o Micuim acaba sendo matuto demais para alguém que conseguiu se virar sozinho na cidade grande. Porém, ele é o alívio cômico da trama e Renato Góes defende muito bem sua função, construindo esse homem ingênuo, quase uma criança que embarca com Aparecida em seus sonhos mirabolantes. Sua relação com a prostituta Valquíria fica ainda mais rica diante desses contrastes. Ela, a cética, ele, o crente. Ela, vivida, ele, sem experiências.
Chama a atenção ainda a direção de arte da obra. Os cenários ajudam, mas a concepção da casa onde vivem, o barco na pedra, os objetos que Aparecida cria como o descascador de pensamentos são extremamente ricos. As roupas que usam, ele quase como um cangaceiro e ela uma artista de circo, também ajudam na concepção das personagens e seu psicológico. Assim como todos os elementos que são utilizados para ajudar nessa história.
Por Trás do Céu, então, tem percalços, coisas mal explicadas, uma certa inverossimilhança e exagero, mas acaba conquistando pelo lirismo e pela graça. É gostoso de acompanhar as fantasias, as descobertas. Há bons momentos de interação e choque entre eles e Valquíria, coisas bobas que nos fazem rir e lembrar mesmo depois da sessão como a "sarna" e o "chocolace". Isso enriquece a experiência e nos faz ter uma boa sensação, ainda que com ressalvas.
Por Trás do Céu (Por Trás do Céu, 2017 / Brasil)
Direção: Caio Sóh
Roteiro: Caio Sóh
Com: Nathalia Dill, Emílio Orciollo Netto, Renato Góes, Paula Burlamaqui, Léo Rosa
Duração: 104 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Por Trás do Céu
2017-04-12T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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