Adaptação da comédia romântica argentina "Um Namorado para Minha Esposa", de 2008, o filme de Julia Rezende consegue avançar em algumas questões que a crítica tanto reclama em comédias brasileiras. Porém, não consegue fugir de clichês e estereótipos típicos do gênero.
A trama gira em torno do casal Chico e Nena, vividos por Caco Ciocler e Ingrid Guimarães. Ele não aguenta mais o mau humor da esposa, mas não tem coragem de se separar. Influenciado pelos amigos, ele resolve procurar o misterioso Corvo, interpretado por Domingos Montagner, para seduzir Nena e fazê-la pedir a separação.
É uma trama absurda em sua essência, verdade, mas no filme argentino já era assim. E apesar do exagero, existem mesmo diversas pessoas presas a relacionamentos infelizes sem coragem de por um fim. As maneiras que inventam para não assumir a responsabilidade pelo término podem ser inúmeras.
Mas o que chama a atenção em Um Namorado para Minha Mulher é a maneira como a personagem da Nena vai sendo desconstruída e reconstruída em tela. O filme começa com um estereótipo da mulher chata. Reclama de tudo, nada está bom, ninguém presta. Aos poucos, o filme vai construindo uma aproximação do espectador com a personagem, criando empatia e mostrando que seu ponto de vista não é tão absurdo assim. A mudança de Nena decorre de dois motivos, um justo, outro machista, é verdade. O justo é a ocupação. Qualquer pessoa sem função, perde a motivação e fica mais irritada. Não precisa ser um emprego formal, mas um objetivo de vida. Quando Nena começa a participar de um programa na internet e vai acompanhando o sucesso do mesmo, ela se torna mais feliz, mais realizada consigo mesma. O outro motivo seria a atenção dada pelo Corvo, algo que seu marido não faz mais, o que reforça o estereótipo da mulher mal amada.
Ingrid Guimarães acaba sendo o ponto principal para o sucesso da obra. Ela dá a Nena o tom necessário da mulher que reclama, mas é engraçada. A maneira como ela conduz os diálogos no programa da internet vai construindo a sensação de "não é que ela tem razão"? E gera o riso até mesmo pelo nervoso do reconhecimento das situações ridículas que ela vai identificando. O resto do elenco cumpre sua função, com destaque para Domingos Montagner em um dos seus últimos trabalhos. A comédia segue um tom leve, sem apelar para situações escrachadas ou exageros nos estereótipos, ainda que eles estejam lá, como os amigos babacas, encabeçados pela personagem de Marcos Veras, que só pensam em cerveja e futebol, incentivando Chico a largar a esposa. A amiga exotérica, que parece saída de uma aldeia hippie, interpretada por Miá Mello. A mulher fútil, vivida por Letícia Colin. Ou mesmo o casal em sua apresentação inicial. Isso sem falar nos clichês de toda comédia romântica que já nos fazem imaginar o final desde o início.
De qualquer maneira, Um Namorado para Minha Mulher é um filme que consegue divertir, sem ofender. Um filme leve que poderia aprofundar alguns temas tornando-se mais atrativo, mas não se propõe mesmo a isso. A ideia é ser um entretenimento sem compromisso e logo esquecido.
Um Namorado para Minha Mulher (Brasil, 2016)
Direção: Julia Rezende
Roteiro: Julia Rezende, Lusa Silvestre, Ingrid Guimarães
Com: Ingrid Guimarães, Caco Ciocler, Domingos Montagner, Miá Mello, Paulo Vilhena, Marcos Vera, Letícia Colin
Duração: 104 min.
