
O que é real: o fato vivenciado ou a ilusão construída? Em seu terceiro longa-metragem, Rebecca Zlotowski é ambiciosa ao buscar metáforas para o cinema, em uma metalinguagem que se torna confusa e, muitas vezes, se perde ao inserir mais do que a trama pode abarcar como a temática política em uma Europa pré-segunda guerra mundial.
Laura e Kate Barlow são duas irmãs que vivem de sessões mediúnicas em exibições públicas ou particulares. Laura, interpretada por Natalie Portman, é a líder. Irmã mais velha que conduz as sessões e fecha os negócios. Kate, vivida por Lily-Rose Depp, é a médium que entra em conexão com os mortos e proporciona a sensação de ligação entre os mundos para a pessoa que participa da sessão. A cliente, no caso. Após uma sessão em Paris, elas são convidadas à casa do produtor André Korben e suas vidas mudam.

Esse jogo construído no paralelo das vivências das duas irmãs é bastante curioso e poderia ser melhor explorado. Porém, Rebecca Zlotowski parece não conseguir conduzir tão bem o seu intento ao estruturar sua trama de maneira confusa e cansativa. Parece não haver muito propósito em cena. Tudo vai sendo jogado de maneira desarticulada. O que pode ser uma estratégia, mas acaba dispersando o público, que, em vez de instigado por seus questionamentos, perde-se em suas peripécias.

De fato, Natalie Portman conduz as sessões mais como uma pessoa em processo de hipnose do que fenômenos mediúnicos. E ainda provoca a plateia machista e patriarcal da época, iniciando sua fala com "vocês estão preparados para a verdade dita por duas mulheres?" Isso pode ser interpretado como uma provocação da própria Rebecca Zlotowski em uma sociedade ainda machista atual. Porém, que verdade o seu filme nos traz?
Tudo fica ainda mais confuso quando é inserido a temática política na trama. O desenrolar da trajetória de André Korben é abrupto e mal desenvolvido. São pequenas pistas que vão sendo dadas, como uma mensagem no espelho, uma revelação de nome e alguns burburinhos sobre a Alemanha. Mas isso acaba perdido em cena, junto à trajetória das duas irmãs. Tudo é pouco desenvolvido, como um gancho para uma nova trama a ser desenvolvida.
No final, Além da Ilusão fala muito e comunica pouco. Uma obra com momentos instigantes, algumas cenas bem conduzidas como a primeira gravação de Laura em um estúdio ou mesmo a sessão inicial em Paris. Mas se perde em meio aos temas, sem definir bem a que se propõe. Talvez seja apenas isso, uma experiência confusa e não definida sobre a relação do cinema, sonhos e a ilusão de fenômenos além de nossos cinco sentidos.
Além da Ilusão (Planetarium, 2017 / França)
Direção: Rebecca Zlotowski
Roteiro: Rebecca Zlotowski, Robin Campillo
Com: Natalie Portman, Lily-Rose Depp, Emmanuel Salinger
Duração: 115 min.