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O Rastro
O Rastro
Não é de hoje que o Brasil se arrisca em filmes de gênero. Na década de sessenta, Roberto Pires já investia nisso aqui na Bahia, por exemplo. Porém, é fato que este não é um tipo de cinema que nosso país costuma investir com frequência. Por isso, sempre que surge algum exemplar, chama a atenção. E o terror parece ser o gênero preferido de uma geração que surge nos últimos anos, vide obras como Quando Eu Era Vivo, Sinfonia da Necrópole, O Lobo Atrás da Porta, entre outros.
O Rastro ainda vai além, construindo um filme de gênero em um cenário extremamente brasileiro, abordando temas como o sucateamento da saúde pública e a corrupção. É uma estrutura extremamente rica que poderia ser melhor explorada com um roteiro mais consistente. Porém, apesar da superficialidade de algumas questões e da má condução das curvas dramáticas em si, o filme consegue conceber uma unidade básica que nos deixa instigados e curiosos em conhecer os mistérios por trás de tudo aquilo.
A trama se centra no médico João, que está coordenando a transferência de pacientes de um hospital que está sendo fechado pelo governo. Porém, uma garotinha acaba sumindo e ele resolve investigar o seu paradeiro, se envolvendo em uma trama de mistério e terror. Isso acaba sendo o foco do filme. A questão do hospital fechando, a política, a própria vida pessoal do médico com sua mulher grávida tornam-se enfeites pouco desenvolvidos, desperdiçando bons atores e boas possibilidades.
A ideia é mesmo seguir João no quinto andar daquele prédio em pedaços, com uma direção de arte caprichada para assombrar. E uma trilha sonora over que o tempo todo busca deixar o espectador em estado de alerta. O som é alto, inclusive, podendo incomodar os mais sensíveis. E há alguns sustos gratuitos como um certo grito em uma cena aleatória que nos deixa a dúvida do verdadeiro sentido de tudo aquilo.
É como se J.C. Feyer quisesse construir uma experiência de terror constante no espectador. São poucos os momentos de alívio e contemplação. Tudo é instável e perigoso naquele local. E as aparições da garotinha, que parece uma Samara abrasileirada, ainda que não seja explicada como assombração de fato ou alucinação, deixa a atmosfera sombria.
Atores como Leandra Leal, Cláudia Abreu e Jonas Bloch parecem sub-aproveitados em tramas secundárias pouco desenvolvidas, porém, Rafael Cardoso consegue dar conta de sua jornada insólita em busca da pequena Julia. Envolvidos com ele e com a intenção de vivenciar uma experiência angustiante em cena, o filme consegue satisfazer. Basta relevar explicações excessivas e a coerência em si do roteiro como um todo.
O Rastro buscou se aproximar ao máximo da estética de filme de terror estadunidense e, em alguns aspectos foi feliz, a começar pelo cartaz. A atmosfera é própria do gênero e tem também boas sequências com doses de adrenalina para plateias exigentes. Ainda assim, ele falha em alguns aspectos do entretenimento, exagerando o tom em alguns momentos e não conseguindo construir uma história coerente. A cena final também força para construir um cenário sombrio em seu encerramento. Não deixa, no entanto, de ser uma experiência válida.
O Rastro (O Rastro, 2017 / Brasil)
Direção: J. C. Feyer
Roteiro: André Pereira, Beatriz Manela
Com: Rafael Cardoso, Leandra Leal, Natália Guedes, Cláudia Abreu, Jonas Bloch
Duração: 110 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
O Rastro
2017-05-26T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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