Antes Que Eu Vá
Baseado no livro de Lauren Oliver, Antes Que Eu Vá traz elementos de muitas histórias que já vimos. Meninas Malvadas e Feitiço do Tempo talvez sejam os que mais vem à mente. E, talvez, a única coisa original nele seja mesmo o seu final, que impacta e surpreende, fazendo-nos sair da sessão pensando nele. Porém, infelizmente, isso não segura um filme inteiro.
Um dos problemas do roteiro de Maria Maggenti está na adaptação da linguagem literária para cinematográfica. As narrações da protagonista Samantha soam redundantes e há uma tentativa de explicar emoções, em vez de construir sensações que nos fazem sentir junto com as personagens. Tudo soa planejado em excesso. Outra questão é na representação da própria adolescência com muitos estereótipos que parecem saídos de filmes dos anos 80, como a homossexual machona ou mesmo a garota que sofre bullying e que mais parece uma caricatura de Carrie, a estranha.
Já a direção de Ry Russo-Young é correta, com alguns acertos poéticos como as cenas de Samantha com a irmã ou mesmo a construção temporal e sua repetição cíclica sem nos dar uma sensação de exaustão. Porém, a diretora não parece conseguir construir bem a imersão no universo ficcional apresentado. Tudo parece distante, sem um envolvimento maior, mesmo com algumas sequências melosas com uma trilha correta. Nada parece chamar a atenção em especial.
A construção da protagonista também parece superficial para a jornada que enfrenta. Zoey Deutch consegue encarnar bem a adolescente, apesar de já ter passado dos vinte anos. A questão são mesmo as incongruências dessa garota que parece ter perdido a noção de generosidade em uma vida construída pela máscara do grupo popular do colégio que adora pisar nos outros. Desde os pequenos gestos, a maneira agressiva como trata a irmã menor, a forma como impede a própria mãe de ultrapassar um limite em seu quarto, o jeito como trata um amigo de infância que hoje é do grupo de "perdedores" e mesmo o namoro que mantém com o rapaz mais cobiçado.
O conflito de estar presa em um único dia traz uma tensão maior para ela que para a personagem de Bill Murray no já citado Feitiço do Tempo. Talvez pela própria fase da adolescência, mais cheia de dúvidas e inseguranças. Também por causa de certos acontecimentos marcantes que são o start para a garota repensar suas atitudes. Porém, mesmo essa reflexão soa apressada em tela, não tendo tempo para trabalhar de fato a protagonista e suas questões. Tudo fica superficial, na base do estereótipo da garota popular bonita e maldosa que percebe que ainda existe um bom coração dentro dela.
Ainda que construam um ponto de vista feminino interessante, diretora e roteirista parecem não se aproximar completamente do grupo que retratam, como se tudo fosse um olhar adulto sob este mundo adolescente, que, repito, está mais próximo dos anos 80 que da própria geração atual, onde valores e estereótipos parecem bem mais relativos. Ainda que a ideia de bullying esteja ainda mais enraizada.
Antes Que Eu Vá acaba sendo um filme frágil, que não traz muito de novo. Reaproveita fórmulas prontas e tenta surpreender com um certo tom de suspense e um desfecho impactante. Tem pontos positivos, mas acaba soando muito menos do que poderia ser.
Antes Que Eu Vá (Before I Fall, 2017 / EUA)
Direção: Ry Russo-Young
Roteiro: Maria Maggenti
Com: Zoey Deutch, Halston Sage, Cynthy Wu
Duração: 98 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Antes Que Eu Vá
2017-06-02T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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