Blue Jay
Lançado diretamente na Netflix, esse filme independente tem um quê de doce e amargo que encanta. Traz ecos de obras como Antes do Amanhecer ou Blue Valentine nos envolvendo em uma melancólica história de amor.
Amanda e Jim se reencontram por acaso, em um supermercado. A surpresa e o embaraço é visível. Não se sabe ao certo a relação entre eles. Em um impulso, resolvem tomar um café juntos e, aos poucos, relembrar o que eram, o que planejaram e o que deu errado.
A fotografia em preto e branco ajuda no tom melancólico da obra. Ver aquelas belas paisagens da Califórnia sem cores é uma maneira de reconfigurar a ideia de belo. É como se sempre faltasse algo, tal qual a Amanda e Jim. Ainda que ela seja casada com filhos, algo parece não combinar com sua aparente felicidade.
É visível que a relação daqueles dois foi interrompida de uma maneira brusca. Há uma sensação de incompletude em cada olhar, em cada palavra pensada antes de falar. E também no jogo que eles vão se envolvendo, como quando fingem ser casados para o dono de uma loja, ou quando ouvem uma fita onde eles, jovens, brincavam de como seria o futuro.
Mark Duplass e Sarah Paulson conseguem construir uma boa química e nos convencer desse amor latente que luta para não retornar diante das escolhas feitas por ambos. Há sempre uma construção delicada de olhar, do não dito, de pequenos gestos que demonstram o quanto eles são íntimos, ainda que distantes. Ainda que a vida não tenha seguido o rumo que eles imaginaram.
O roteiro consegue construir essas horas de reencontro de maneira leve, com diálogos bem construídos e situações divertidas, como quando os dois dançam ou simulam uma cena de casados. Mas não há uma profundidade textual, como nos filmes de Richard Linklater, é preciso ressaltar. Amanda e Jim, ainda que falem de depressão, amor e detalhes do término, não conseguem filosofar sobre relacionamentos nem mesmo aprofundar questões sobre relações humanas, sonhos e realidade.
Blue Jay acaba sendo apenas uma viagem curiosa à intimidade de suas pessoas que tiveram uma história juntos, separaram e voltaram a se encontrar anos depois. Do incômodo do reencontro, sem saber ao certo como agir, a intimidade que vai sendo retomada, temos oitenta minutos de projeção gostosos de acompanhar. Mas não passa muito disso.
Blue Jay (Blue Jay, 2016 / EUA)
Direção: Alex Lehmann
Roteiro: Mark Duplass
Com: Mark Duplass, Sarah Paulson, Clu Gulager
Duração: 80 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Blue Jay
2017-06-25T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
Alex Lehmann|Clu Gulager|critica|drama|Mark Duplass|Sarah Paulson|
Assinar:
Postar comentários (Atom)
cadastre-se
Inscreva seu email aqui e acompanhe
os filmes do cinema com a gente:
os filmes do cinema com a gente:
No Cinema podcast
anteriores deste site
mais populares do site
-
King Richard: Criando Campeãs (2021), dirigido por Reinaldo Marcus Green , é mais do que apenas uma cinebiografia : é um retrato emocionalm...
-
Amor à Queima Roupa (1993), dirigido por Tony Scott e roteirizado por Quentin Tarantino , é um daqueles filmes que, ao longo dos anos, se...
-
Cinema Sherlock Homes O filme de destaque atualmente é esta releitura do clássico do mistério pelas mãos de Guy Ritchie. O ex de Madonna p...
-
O Soterópolis programa cultural da TVE Bahia, fez uma matéria muito interessante sobre blogs baianos. Esta que vos fala deu uma pequena con...
-
Eletrizante é a melhor palavra para definir esse filme de Tony Scott . Que o diretor sabe fazer filmes de ação não é novidade, mas uma tra...
-
Clint Eastwood me conquistou aos poucos. Ele sabe como construir um filme que emociona e, agora, parece ter escolhido Matt Damon como seu ...
-
O CinePipocaCult adverte: se você sofre de claustrofobia, síndrome do pânico ou problemas cardíacos é melhor evitar esse filme. Brincadeiras...
-
Fui ao cinema sem grandes pretensões. Não esperava um novo Matrix, nem mesmo um grande filme de ação. Difícil definir Gamer, que recebeu du...
-
Hitch: Conselheiro Amoroso é um daqueles filmes que, à primeira vista, parecem abraçar o clichê sem qualquer vergonha, mas que, ao olhar m...