
Documentário com toques de ficção, Fernando tem momentos inspirados. Há uma mistura de linguagens, mas o que prevalece é a observação da rotina dele, seja como professor, ator ou em sua intimidade.
Intimidade essa que, na verdade, é encenada, já que quem faz o seu companheiro é o bailarino Rubens Barbot. Mas a química dos dois acabam funcionando em tela. Como na cena em que passam um texto ou conversam na cama. Ou a poética cena final que passa paz e união de uma maneira tão simbólica. Dá para comprar a ideia de um casal.
Porém, algo parece desandar na estrutura do filme como um todo. Seja por excesso de vertentes ou mesmo pela condução da narrativa. Ainda que seja possível uma lógica ilógica, o raciocínio parece se perder em alguns pontos. A sensação é de que existem ali muitos filmes a serem contados e dirigir é também a escolha do que deixar de fora.

A técnica também parece bastante irregular. Com planos muito bem pensados contrastando com outros apressados na tentativa de não perder a espontaneidade, provavelmente . A ideia de privilegiar a fala à mise-en-scene parece visível, o que enfraquece enquanto filme.
Ainda assim, é possível beber um pouco da fonte do pensamento de um artista tão singular. E pensar junto com ele na necessidade de cuidar de seu corpo e saber ouvi-lo. E também sobre a importância da arte na construção de pensamento crítico. A maneira como ele conta sobre o trabalho com crianças carentes inspira e traz esperança. E é sempre bom ver e ouvir falar sobre arte. Ainda mais com um experiência tão rica quanto a do retratado.
A sensação que fica ao final da sessão é de que Fernando Bohrer é um personagem ímpar. Ator, professor, ser humano, que encanta e inspira. Tanto que a admiração dos três diretores por esse mestre pode ter atrapalhado no planejamento de como contar sua história. Daqueles filmes que tentam falar de tudo e acabam confusos e cansativos. Uma pena. Ainda assim uma experiência inspiradora.
Filme visto no 6º Olhar de Cinema de Curitiba.
Fernando (2017, Brasil)
Direção: Igor Angelkorte, Julia Ariani, Paula Vilela
Roteiro: Igor Angelkorte, Julia Ariani, Paula Vilela
Duração: 70 min.