Dono de três Oscars, 4 Baftas, 2 Globo de Ouro e 3 SAG Awards, o inglês Daniel Day-Lewis é considerado um dos grandes atores de todos os tempos. Após a intensa interpretação como Abraham Lincoln, que lhe deu seu terceiro Oscar, nossa última chance de ver sua atuação em tela grande virá ano que vem com o novo filme de Paul Thomas Anderson. Isso porque Day-Lewis acaba de anunciar sua aposentadoria. Sem maiores explicações, apenas em uma nota curta através de seus agentes. Surpreende, mas não deixa de também encantar. Parar no auge é um talento para poucos.
Na verdade, Daniel Day-Lewis sempre foi um ator reservado, nunca foi de emendar produções e nos últimos anos tem sido cada vez mais seletivo com seus papéis. Isso acaba lhe dando um repertório de fazer inveja, com grandes papéis, grandes filmes e grandes diretores em seu currículo. A Insustentável Leveza do Ser, Meu Pé Esquerdo, O Último dos Moicanos, A Época da Inocência, Em Nome do Pai, As Bruxas de Salem, O Lutador, Gangues de Nova York, Sangue Negro, Nine, Lincoln. Essa é praticamente sua filmografia, ainda que existam outros títulos.
E o mais impressionante é a capacidade de transformação desse grande ator para cada papel. Chega a ser incrível de acreditar que o sensível Christy Brown seja o mesmo ator que faz o guerreiro Hawkeye de O Último dos Moicanos, ou o galã Newland Archer de A Época da Inocência ou ainda o vilão Bill 'The Butcher' Cutting de Gangues de Nova York. Isso para citar apenas algumas de suas façanhas. Daqueles atores que sempre esperamos para ver como irá se transformar para o novo papel.
Em uma filmografia assim, é complicado escolher as melhores atuações. Trago, então, uma homenagem um pouco mais pessoal às personagens e filmes que mais me marcaram, por algum motivo especial. Apenas para registrar esse momento de despedida. Uma despedida doce, já que foi uma escolha dele, não uma tragédia, que tirou Daniel Day-Lewis das telas. Que ele possa curtir sua aposentadoria como melhor puder e que seus filmes continuem reverberando em nossas mentes para sempre.
Hawkeye (Nathaniel Poe) - O Último dos Moicanos (1992)
Esse é um papel especial por um motivo simples. Foi o primeiro filme que vi de Daniel Day-Lewis. E foi no cinema, o que é ainda mais especial. Ao lado da também talentosa e bela Madeleine Stowe, ele vivia uma espécie de Romeu e Julieta ao mesmo tempo em que lutava pelo povo que o criou. Dirigido por Michael Mann, o filme é uma aventura histórica competente que não teve fôlego para se tornar um clássico, mas tocou em temas importantes como a questão indígena e trouxe bons momentos de lutas.
Newland Archer - A Época da Inocência (1993)
Aqui temos a união de muitos fatores para o sucesso da obra, um grande diretor (Martin Scorsese), um grande ator, um grande elenco e uma história avassaladora. Quem não se encanta com uma bela e proibida história de amor? Daniel Day-Lewis e Michelle Pfeiffer constroem uma química que nos envolve em sua paixão e frustração por ter entre eles a presença da personagem de Winona Ryder, construindo um triângulo amoroso que não acaba bem para nenhum dos três. Uma trama doce e melancólica com lindas cenas que ficam em nossa mente.
Guido Contini - Nine (2009)
Talvez um dos maiores fracassos de Daniel Day-Lewis, mas para mim é especial por ser a tentativa de complemento da obra-prima de Fellini e por ser um musical, gênero que me é tão caro. O Guido de Day-Lewis é denso em sua angústia por não conseguir construir sua obra e ainda canta muito bem. É daqueles filmes que não tem explicação para se gostar, mas apenas deixar-se envolver por tudo que representa.
Christy Brown - Meu Pé Esquerdo (1989)
Por fim, esse que talvez seja o seu papel mais famoso. Seu primeiro Oscar e seu primeiro grande filme. A delicadeza com que Daniel Day-Lewis encara esse gênio das artes plásticas comove. Não apenas por ser um artista deficiente, mas pela emoção que consegue nos passar em cada cena. Simplesmente não há como ficar indiferente a ele. Agora é aguardar que seu último papel também seja inesquecível.
