Divinas Divas
Divinas Divas é um documentário especial. Estreia de Leandra Leal na direção, a obra traz uma homenagem a artistas que fizeram parte da história da atriz, nascida praticamente nas coxias do teatro. De maneira leve e intimista, ela resgata a história de oito travestis que marcaram época no Brasil e dos palcos do Teatro Rival, fundado por seu avô e que, hoje, ela própria administra.
Apesar de pontuais narrações em voz over e algumas perguntas que vazam na edição, a atuação da diretora na obra é bastante discreta. Ao mesmo tempo, é possível perceber seu coração pulsando em cada take escolhido. A história daquelas mulheres faz parte da sua própria história. Em determinado momento, isso fica muito claro durante a projeção. Homenageá-las é também uma forma de homenagear seu avô, sua mãe e seu pai.
Jane di Castro, Rogéria, Divina Valéria, Camille K., Brigitte de Búzios, Fujika de Holliday, Eloína dos Leopardos e Marquesa estão em tela o tempo todo. O documentário mistura entrevistas, ensaios, recortes de jornais e revistas, além de atuações no próprio palco do Rival em uma apresentação especial de 50 anos de carreira.
É interessante como o roteiro do documentário não constrói uma estrutura cartesiana e, ao mesmo tempo, cada uma delas tem o seu momento de fala e resgate. As conversas e lembranças surgem de maneira natural. Tudo flui em tela, acompanhando a história dessas mulheres, artistas que ultrapassaram barreiras, inovaram e brilharam aqui e no exterior.
Viviam em uma época em que os direitos dos homossexuais ainda nem eram discutidos e ser travesti era uma aberração. Ao mesmo tempo, parece que naquela época era mais fácil encontrar shows e construir uma carreira. Como algumas delas mesmo dizem, era trabalho a semana inteira, hoje, muitas tem que apelar para prostituição para sobreviver. Apesar da ditadura militar, elas conseguiam um status de Divas, aparecendo em revistas e se tornando celebridades, coisa que vemos pouco, hoje em dia, apesar de toda a luta e conquistas da classe.
O único problema do documentário acaba sendo a duração, quase duas horas faz a estrutura ficar cansativa. Por mais que sejam oito artistas resgatadas, talvez fosse possível reduzir um pouco. Mas é complicado mesmo diante de tantas histórias. Entre histórias pessoais, relação com a família, escolhas de carreira, a gente sente que cada uma delas poderia render um longa-metragem próprio.
Divinas Divas consegue passar todo o carinho e importância daquelas artistas para a diretora Leandra Leal. E assim, nos conquista juntos. É fácil admirar aquelas pessoas e perceber que sim, são divas e merecem brilhar nos palcos e em nossas lembranças. Esta foi uma bela forma de eternizá-las.
Divinas Divas (Divinas Divas, 2017 / Brasil)
Direção: Leandra Leal
Roteiro: Leandra Leal, Carol Benjamin, Lucas Paraizo, Natara Ney
Com: Jane di Castro, Rogéria, Divina Valéria, Camille K., Brigitte de Búzios, Fujika de Holliday, Eloína dos Leopardos, Marquesa
Duração: 110 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Divinas Divas
2017-07-01T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
cinema brasileiro|critica|documentario|filme brasileiro|Leandra Leal|
Assinar:
Postar comentários (Atom)
cadastre-se
Inscreva seu email aqui e acompanhe
os filmes do cinema com a gente:
os filmes do cinema com a gente:
No Cinema podcast
anteriores deste site
mais populares do site
-
King Richard: Criando Campeãs (2021), dirigido por Reinaldo Marcus Green , é mais do que apenas uma cinebiografia : é um retrato emocionalm...
-
Cinema Sherlock Homes O filme de destaque atualmente é esta releitura do clássico do mistério pelas mãos de Guy Ritchie. O ex de Madonna p...
-
Eletrizante é a melhor palavra para definir esse filme de Tony Scott . Que o diretor sabe fazer filmes de ação não é novidade, mas uma tra...
-
O Soterópolis programa cultural da TVE Bahia, fez uma matéria muito interessante sobre blogs baianos. Esta que vos fala deu uma pequena con...
-
Clint Eastwood me conquistou aos poucos. Ele sabe como construir um filme que emociona e, agora, parece ter escolhido Matt Damon como seu ...
-
Olhando para A Múmia (1999), mais de duas décadas após seu lançamento, é fácil perceber como o filme se tornou um marco do final dos anos ...
-
Amor à Queima Roupa (1993), dirigido por Tony Scott e roteirizado por Quentin Tarantino , é um daqueles filmes que, ao longo dos anos, se...
-
Fui ao cinema sem grandes pretensões. Não esperava um novo Matrix, nem mesmo um grande filme de ação. Difícil definir Gamer, que recebeu du...
-
O CinePipocaCult adverte: se você sofre de claustrofobia, síndrome do pânico ou problemas cardíacos é melhor evitar esse filme. Brincadeiras...