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Bernardo Dutra
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Lukas Loughran
Manitou Felipe
Ralph Ineson
Selton Mello
Seu Jorge
Thomas Chaanhing
Soundtrack
Soundtrack
Ir a um lugar ermo para tirar selfies ouvindo música e depois fazer uma exposição onde o visitante ouviria a mesma música para se conectar ao sentimento do fotógrafo / fotografado. Essa é a ideia de Cris, personagem de Selton Mello ao chegar a uma estação de pesquisa polar. Uma atitude que causa estranhamento e questionamentos em uma premissa fílmica que discute os valores atuais da nossa sociedade. E afinal, o que é arte?
Na estação polar, Cris conhece o especialista britânico em aquecimento global Mark (Ralph Ineson), o botânico brasileiro Cao (Seu Jorge), o biólogo chinês Huang (Thomas Chaanhing) e o pesquisador dinamarquês Rafnar (Lukas Loughran). Com exceção de Cao, todos julgam Cris um egocêntrico maluco, principalmente Mark que divide uma estação com ele e é responsável por sua segurança. O inglês está com a mulher grávida e gostaria de estar em casa naquele momento. A atitude de Cris, então, o incomoda profundamente.
O ritmo da obra é construído pela rotina desses cinco homens em uma paisagem inóspita que é coberta por gelo. A maior parte da fotografia é um fundo branco com as personagens em primeiro plano. Mesmo nas cenas internas há uma certa concepção monocromática que nos dá a sensação eterna de congelamento no tempo. Nada parece se modificar. A sensação de vazio é grande. Principalmente porque os diretores escolhem não nos apresentar as músicas tocadas no fone de ouvido.
Isso, talvez, seja o ponto mais instigante da obra. Afinal, a ideia de Cris é passar emoções através das músicas. Em uma cena, ele demonstra a Mark três formas diferentes de ver uma montanha a depender da música que se esteja ouvindo. Só que não nos é dado o privilégio dessa experimentação também. Ficamos apenas com as imagens, as expressões e as descrições das falas.
Imaginar quais músicas tocavam ali é uma experiência que instiga a imaginação. Porém, talvez pudesse, em um segundo momento, nos ser concedido a experiência sonora não apenas para nos colocar em cena também, como para comprovar a ideia da exposição de Cris. Afinal, apenas vendo as imagens como acontecem, estamos apenas repetindo o que já é feito normalmente, onde nos chegam as imagens, mas não a experiência exata do fotógrafo ao tirar aquela foto.
É curioso ainda que nos reste apenas a visão da experiência, sentido com o qual Cris tem uma relação instigante desde o início. Vemos sempre o fotógrafo treinando movimentos e tarefas de olhos fechados, como se fosse deficiente visual. As experimentações terão uma explicação futura, mas acaba sendo pouco para justificar uma obsessão por tal experiência.
O que acontece é que Soundtrack acaba sendo um filme curioso acima de tudo. Tal qual Cris no Pólo Norte, a obra é uma estranha em meio à filmografia brasileira, não se encaixando exatamente em uma escola cinematográfica, nem mesmo em um gênero de mercado. Tanto que é um filme brasileiro falado em inglês em sua maior parte do tempo. Os diretores Manitou Felipe e Bernardo Dutra, que assinam o filme com o nome artístico da dupla, 300ml, constroem uma experiência.
E tal qual Cris, ele pode ser julgado por diversos fatores, mas é inegável que chama a atenção por ser diferente. É uma obra artística que se sustenta, principalmente pelo talento de seu elenco, em especial de Selton Mello. E traz diversos momentos belos, como a cena da montanha já citada ou a cena da virada do ano. Tem ainda alguns sustos e tensões. E também uma reviravolta que nos deixa pensando os valores da sociedade e o que seja arte. Mais do que isso, o que faz de uma obra de arte um sucesso e como o nome de um artista se eterniza.
Nada melhor, então, do que conferir a obra e tirar suas próprias conclusões.
Soundtrack (Soundtrack, 2017 / Brasil)
Direção: 300ml
Roteiro: 300ml
Com: Selton Mello, Seu Jorge, Ralph Ineson, Thomas Chaanhing, Lukas Loughran
Duração: 112 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Soundtrack
2017-07-10T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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