Home
Augusto Madeira
cinema brasileiro
comedia
critica
filme brasileiro
Ísis Valverde
Jesuíta Barbosa
Julia Ianina
Júlio Andrade
Leandro Hassum
Luciana Paes
Milhem Cortaz
Paulo Morelli
Vera Holtz
Malasartes e o Duelo com a Morte
Malasartes e o Duelo com a Morte
Personagem tradicional da cultura ibero-americana, Pedro Malasartes é o típico caipira esperto e ingênuo ao mesmo tempo. Personificado em filmes de mestre Mazzaropi, tem eco em outros personagens conhecidos como João Grilo ou Jeca Tatu. Agora, ele chega aos cinemas brasileiros interpretado por Jesuíta Barbosa em uma superprodução da O2 Filmes, que se destaca pela direção de arte e efeitos especiais, além de trazer uma história divertida.
A morte, interpretada por Júlio Andrade, está cansada de sua função. Deseja encontrar um substituto à altura: "o mais esperto dos homens". E para isso escolhe e observa à distância Pedro Malasartes, um caipira esperto que adora dar voltas em todos a seu redor. Assim, ele ganha como arqui-inimigo o fazendeiro Próspero, vivido por Milhem Cortaz, que lhe cobra uma dívida de família, além de algumas outras confusões. E no outro mundo, a Parca cortadeira interpretada por Vera Holtz e o ajudante da morte Esculápio tentarão prejudicá-lo, pois querem o lugar que o ceifador quer entregar ao caipira.
O filme de Paulo Morelli é um conto caipira mágico. E toda essa atmosfera de fábula é bem conduzida desde a apresentação em animação, passando para a trama em si, que traz uma direção de arte e efeitos especiais impressionantes para o cinema brasileiro e que não fazem feio ao nível internacional. As cenas envolvendo as velas, que representam as vidas humanas, por exemplo, são belíssimas. Toda a construção do mundo onde vivem a morte, seu ajudante e as três irmãs parcas impressiona em detalhes, ainda que seja um cenário relativamente simples. É possível comprar esse mundo mágico e sua relação com a roça onde vive o herói.
Já na Terra, temos uma típica cidadezinha interiorana. Com estrada de barro, casas simples, mata e fazendas. Esperto e ingênuo ao mesmo tempo, Malasartes vive de pequenos golpes. Sua rixa com Próspero vem de família, mas ele está sempre dando motivos para irritar ainda mais seu inimigo. Tem ainda o fato dele namorar a irmã do homem, Áurea, interpretada por Ísis Valverde. Malandro, ele foge do compromisso, apesar de gostar dela, e está sempre flertando com uma bela morena que passa por seu caminho. Um triângulo que só reforça estereótipos machistas, mas que não é o foco da obra. Malasartes conhece ainda o ingênuo Zé Candinho, vivido por Augusto Madeira, que cai em um golpe do caipira, mas se torna seu amigo e cúmplice, construindo a velha dupla de palhaços que tanto funciona: o branco e o augusto.
Entre estereótipos e arquétipos, todo o elenco consegue encarnar bem as personas que compõem a narrativa com talento. Mesmo o overacting de alguns momentos, na atuação de Júlio Andrade como a morte, Milhem Cortaz, como Próspero e o ajudante da morte, interpretado por Leandro Hassum, funcionam no contexto. Há um tom de fábula que se mantém por toda a obra, mesmo na fazenda, o que ajuda o espectador a embarcar nesse universo e suas regras. Assim não nos assusta, por exemplo, ver cenas como a do aniversário de Malasartes ou a cena no bar, após um jogo de truco.
A trilha sonora também ajuda na condução do ritmo da obra, sempre intercalando alegria com melancolia na roça. Alguns acordes inclusive, lembra a trilha de o Auto da Compadecida, que traz um universo bastante próximo da obra. Ainda que Deus e o Diabo não participem da história, há semelhanças visíveis nas duas histórias diante da persona próxima de Malasartes e João Grilo, que envolve esse limiar entre a vida e a morte. Mas não deixam de ser perspectivas também bastante distintas.
Malasartes e o Duelo com a Morte é uma fábula bem contada. Possui um cuidado técnico que impressiona, com uma história divertida e envolvente interpretada por um belo elenco. Uma comédia brasileira como gostaríamos que existissem mais, sem tantos apelos tolos e outras bobagens que vemos por aí. Ainda é frágil em representatividade de gênero, verdade. Mesmo as três irmãs parcas são inferiorizadas diante da morte que agora é um homem. Mas consegue ser coerente e verdadeira em sua intensão de misturar questões brasileiras com mitologias universais. Não deixa de ser bonito e envolvente em seu resultado.
Malasartes e o Duelo com a Morte (2017 / Brasil)
Direção: Paulo Morelli
Roteiro: Paulo Morelli
Com: Jesuíta Barbosa, Ísis Valverde, Júlio Andrade, Leandro Hassum, Milhem Cortaz, Vera Holtz, Augusto Madeira, Luciana Paes, Julia Ianina
Duração: 110 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Malasartes e o Duelo com a Morte
2017-08-08T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
Augusto Madeira|cinema brasileiro|comedia|critica|filme brasileiro|Ísis Valverde|Jesuíta Barbosa|Julia Ianina|Júlio Andrade|Leandro Hassum|Luciana Paes|Milhem Cortaz|Paulo Morelli|Vera Holtz|
Assinar:
Postar comentários (Atom)
cadastre-se
Inscreva seu email aqui e acompanhe
os filmes do cinema com a gente:
os filmes do cinema com a gente:
No Cinema podcast
anteriores deste site
mais populares do site
-
King Richard: Criando Campeãs (2021), dirigido por Reinaldo Marcus Green , é mais do que apenas uma cinebiografia : é um retrato emocionalm...
-
Cinema Sherlock Homes O filme de destaque atualmente é esta releitura do clássico do mistério pelas mãos de Guy Ritchie. O ex de Madonna p...
-
Eletrizante é a melhor palavra para definir esse filme de Tony Scott . Que o diretor sabe fazer filmes de ação não é novidade, mas uma tra...
-
O Soterópolis programa cultural da TVE Bahia, fez uma matéria muito interessante sobre blogs baianos. Esta que vos fala deu uma pequena con...
-
Clint Eastwood me conquistou aos poucos. Ele sabe como construir um filme que emociona e, agora, parece ter escolhido Matt Damon como seu ...
-
Olhando para A Múmia (1999), mais de duas décadas após seu lançamento, é fácil perceber como o filme se tornou um marco do final dos anos ...
-
Amor à Queima Roupa (1993), dirigido por Tony Scott e roteirizado por Quentin Tarantino , é um daqueles filmes que, ao longo dos anos, se...
-
O CinePipocaCult adverte: se você sofre de claustrofobia, síndrome do pânico ou problemas cardíacos é melhor evitar esse filme. Brincadeiras...
-
Fui ao cinema sem grandes pretensões. Não esperava um novo Matrix, nem mesmo um grande filme de ação. Difícil definir Gamer, que recebeu du...