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Heloísa Passos
Construindo Pontes
Construindo Pontes
A palavra de ordem do Festival de Brasília parece ser “afeto” como apontou o crítico Luiz Zanin. E é curiosa a maneira como este sentimento aparece no primeiro filme como diretora de Heloísa Passos.
Diretora de fotografia experiente com diversas obras no currículo, a exemplo de Lixo Extraordinário, a cineasta escolhe falar sobre seu pai em sua estreia como diretora. E o ato políticos de expor as diferenças entre pai e filha acabam se transformando em um homenagem ao velho, por mais que ela tente desconstruí-lo.
“O único momento em que se teve um projeto de país foi durante a revolução”, sentencia Álvaro falando sobre as obras durante o dito “milagre econômico da época da ditadura militar. E esse é o primeiro momento em que descobrimos as divergências de visões entre pai e filha.
Não que o pai de Heloísa seja favor da ditadura em si ou de tortura, mas é um engenheiro que enriqueceu vendo as obras feitas pelos militares no país e que hoje também enxerga Moro como herói nacional e aplaudiu o impeachment da “moça”, como ele se refere à presidente Dilma. Já a cineasta vê um golpe vigente no país e tenta mostrar que o “milagre econômico” se resumiu a obras superfaturadas e muitas vezes abandonadas.
Independente de concordar com um ou com outro, chama a atenção a maneira como o pai de Heloísa parece “ganhar” essa briga mesmo sendo o filme dela. Sempre com voz calma e atitude solícita, o velho engenheiro acaba fazendo a filha escalar na irritação, muitas vezes gritando e com argumentos que parecem apenas chavões dos tempos polarizados em que vivemos.
Há um incômodo nisso por ver mais uma vez uma mulher manipulada diante de um homem inteligente da mesma maneira que uma filha submissa a um pai “dono da verdade”. E, talvez, por mais que tente expor seu ponto de vista, o fato de não superar a figura paterna faça com que essas pretensas pontes construídas pareçam frágeis.
Não há um diálogo entre pai e filha, ambos continuam com suas convicções opostas. Mas, ao mesmo tempo, há afeto. E não silenciar as diferenças, ainda que explicite a relação amorosa da família, acaba sendo o ato de maior coragem da cineasta que se coloca frágil a nossa frente. Dando ao pai seu filme e, inclusive, a possibilidade de escolher o final dele.
Construindo Pontes é um filme que nos faz pensar. É possível identificar-se com ele, principalmente, porque sempre temos embates entre pais e filhos, embate entre gerações e embates entre pontos de vistas em que em algum momentos nos vimos na posição mais frágil. E, em tempos em que divergência política virou sinônimo de inimizade, não deixa de ser acalentador perceber que ainda é possível preservar o afeto em relações assim.
Filme visto no 50º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.
Construindo Pontes (Construindo Pontes, 2017 / Brasil)
Direção: Heloísa Passos
Roteiro: Leticia Simões, Stefanie Kremser, Heloísa Passos
Com: Álvaro Passos, Heloísa Passos
Duração: 72 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Construindo Pontes
2017-09-23T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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