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Fala Comigo
Fala Comigo
Fala Comigo começa de maneira incômoda, chocante até. Um garoto liga para mulheres mais velhas, pacientes de sua mãe terapeuta, e se masturba enquanto ouve suas vozes. Seria apenas um fetiche adolescente, só que ele ainda guarda os fluídos em uma pasta com nome e idade da vítima. Isso poderia ser problemático, ampliando o vício para algo pior, porém o hábito é interrompido quando uma delas começa a conversar com ele achando ser seu ex-marido, Otávio, que a abandonou.
Contra todos os prognósticos, Ângela e Diogo iniciam um romance. E o encontro dos dois os cura de seus males. Diogo se torna um rapaz mais equilibrado e para com o vício. Ângela se torna uma mulher mais feliz, curando-se da depressão. E assim, sem julgamentos, Felipe Sholl nos faz embarcar em um drama familiar, questionando nossos próprios preconceitos.
Além dos telefonemas e de Ângela, Diogo ainda tem uma experiência homossexual com seu melhor amigo que parece apaixonado por ele. Essa trama também é construída de maneira sutil, nas entrelinhas, tal qual a crise no casamento dos pais do rapaz. Guilherme dá sempre a desculpa da "zoação", mas diversos detalhes demonstram seu interesse, até mesmo na forma acintosa com que se comporta na frente de Ângela, demonstrando muito mais ciúmes do que estranhamento pelo amigo estar com uma mulher mais velha.
O fato da mãe de Diogo, vivida por Denise Fraga, ser uma terapeuta só enriquece a trama. Provavelmente lacaniana, já que utiliza da técnica do divã, Clarice é uma mulher repleta de problemas psicológicos ao seu redor. Ela, em si, não chega a ser aprofundada, porém, seu casamento está em crise, seu marido verbaliza não suportar mais viver dentro das regras daquela casa e dorme na sala algumas vezes. Já sua filha mais nova é hipocondríaca, sempre achando estar com apendicite.
Felipe Sholl também não julga. Seguindo a linha do "de perto ninguém é normal", ele constrói sua história com uma câmera pouco invasiva, trabalhando a sexualidade muito mais no olhar e insinuações do que no ato explícito. A expressão de felicidade quando Diogo vê Ângela sem camisa pela primeira vez, por exemplo, é esplêndida. Da mesma forma que o olhar de Guilherme ao ver o amigo dormir.
São sempre nos detalhes que vamos juntando as peças e construindo aquele cenário onde a comunicação não parece mesmo fácil. Estamos sempre vendo as personagens "pisando em ovos" sem conseguir expressar seus sentimentos. Talvez por isso, o encontro tão genuíno de Diogo e Ângela acabe nos conquistando sem dar muita importância para os alertas de relação abusiva e outros detalhes possíveis.
Fala Comigo traz possibilidades de relacionamentos, buscas e descobertas. Sem julgamentos e de maneira sutil, respeitando todas as diferenças e fantasias. Por isso, torna-se tão instigante e envolvente.
Fala Comigo (Fala Comigo, 2017 / Brasil)
Direção: Felipe Sholl
Roteiro: Felipe Sholl
Com: Tom Karabachian, Karine Teles, Denise Fraga, Emílio de Mello
Duração: 92 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Fala Comigo
2017-09-08T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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