Foto: Junior Aragão |
O Festival de Brasília terminou com uma sensação de urgência das causas sociais. Um Festival que sempre teve um viés político, em sua edição histórica de 50º edições, trouxe, em sua maioria, obras que discutiam questões raciais, violência contra a mulher e questões da periferia.
O grande vencedor, Árabia, traz essa voz do homem pobre, operário, ex-presidiário, viajante em busca de oportunidades de uma maneira muito pulsante. O ator Aristides de Souza nos entrega uma interpretação verdadeira e emocionante, construída principalmente através de suas expressões em cena e da narração em voz over que conduz a narrativa. Como se contasse para nós sua história, Cristiano rememora sua vida até aquele momento. E, ao dar a voz ao protagonista, os diretores conseguiram resolver bem o chamado "lugar de fala". O filme ganhou cinco Candangos: melhor filme pelo júri oficial, melhor ator, melhor montagem, melhor trilha sonora e melhor filme pelo júri da crítica.
Foto: Rômulo Juracy |
Apesar de uma sensação de decepção, o filme de Adirley Queirós levou o candango de melhor direção, melhor som e melhor atriz coadjuvante para Jay Batista. Era uma vez Brasília é um filme com problemas estruturais, mas é mesmo inegável o talento de seu diretor. Além disso, traz as questões já debatidas em sua obra sobre a segregação das cidades satélites e os problemas sociais da região. Aqui, o cineasta ainda traz um viés político nacional em busca de um diálogo mais universal. é compreensível que o júri tenha lhe dado o prêmio de direção, ainda que Affonso Uchoa e João Dumans, diretores de Arábia, a meu ver, merecessem mais.
A verdade é que o conjunto de filmes da competitiva nacional esse ano não era dos mais inspirados. Temos boas obras, outras nem tanto, mas, com exceção de Arábia, nenhuma unanimidade capaz de arrebatar a admiração de público e crítica com tanto entusiasmo como em outros anos. A exemplo da própria obra anterior de Adirley, Branco Sai, Preto Fica.
Foto: Rômulo Juracy |
As temáticas políticas, sociais e de gênero também foram o tom dos debates dessa edição. Tivemos mesas para discutir a questão racial e de representatividade no cinema, da mulher na crítica ou da própria crítica no universo digital. Isso só para dar alguns exemplos. Foi a primeira vez também em 50 edições que uma mulher deu uma Master Class no Festival. E para compensar já foram duas: Anna Muylaert e Laís Bodanzky.
No fim, Brasília deixa um saldo positivo. Aponta para mudanças no cenário audiovisual e traz à tona questões antes negligenciadas. Cinema também é política, representatividade conta e alguns filmes conseguiram trazer um frescor a esse debate com belas obras. Porém, alguns filmes acabaram injustiçados em debates que cobravam deles o que não poderiam dar. O mais emblemático foi o que aconteceu no debate de Vazante de Daniela Thomas, porém, Construindo Pontes e Pendular acabaram sendo cobrados também por isso, curiosamente três filmes dirigidos por mulheres, mas esse já seria outro assunto.
Agora é acompanhar como se comportará o cenário brasileiro após esses nove intensos dias e se as mudanças propostas serão perenes, porém, sem esquecer o cinema e sua capacidade nos encantar e emocionar com técnica, estética e boas histórias. Que possamos viver a diversidade sempre.
Foto: Rômulo Juracy |
Troféu Candango – Longa-metragem:
Melhor Filme: Arábia, dirigido por Affonso Uchoa e João Dumans
Melhor Direção: Adirley Queirós por Era uma vez Brasília
Melhor Ator: Aristides de Sousa por Arábia
Melhor Atriz: Valdinéia Soriano por Café com canela
Melhor Ator Coadjuvante: Alexandre Sena por Nó do Diabo
Melhor Atriz Coadjuvante: Jai Baptista por Vazante
Melhor Roteiro: Ary Rosa por Café com canela
Melhor Fotografia: Joana Pimenta por Era uma vez Brasília
Melhor Direção de Arte: Valdy Lopes JN por Vazante.
Melhor Trilha Sonora: Francisco Cesar e Cristopher Mack por Arábia
Melhor Som: Guile Martins, Daniel Turini e Fernando Henna por Era uma vez Brasília
Melhor Montagem: Luiz Pretti e Rodrigo Lima por Arábia
Prêmio Especial do Júri: Melhor Ator Social para Emelyn Fischer, por Música para quando as Luzes se apagam
Júri Popular (Prêmio Petrobras de Cinema) longa-metragem: Café com canela, dirigido por Ary Rosa e Glenda Nicácio
Troféu Candango – Curta-metragem:
Melhor Filme: Tentei, dirigido por Laís Melo
Melhor Direção: Irmãos Carvalho por Chico
Melhor Ator: Marcus Curvelo por Mamata
Melhor Atriz: Patricia Saravy por Tentei
Melhor Roteiro: Ananda Radhika por Peripatético
Melhor Fotografia: Renata Corrêa por Tentei
Melhor Direção de Arte: Pedro Franz e Rafael Coutinho por Torre
Melhor Trilha Sonora: Marlon Trindade por Nada
Melhor Som: Gustavo Andrade por Chico
Melhor Montagem: Amanda Devulsky e Marcus Curvelo por Mamata
Prêmio especial: Peripatético, dirigido por Jéssica Queiroz
Júri Popular – Curta-metragem: Carneiro de ouro, dirigido por Dácia Ibiapina
OUTROS PRÊMIOS
Prêmio Canal Brasil: Chico, dirigido por Irmãos Carvalho
Prêmio Abraccine
Melhor filme de longa-metragem: Arábia, dirigido por Affonso Uchoa e João Dumans
Melhor filme de curta-metragem: Mamata, dirigido por Marcus Curvelo
Prêmio Saruê: Afronte, direção de Marcus Azevedo e Bruno Victor
Prêmio Marco Antônio Guimarães: Construindo pontes, dirigido por Heloísa Passos
Prêmio CiaRio/Naymar
Para o melhor curta pelo Júri Popular: Carneiro de ouro, dirigido por Dácia Ibiapina