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Marcelo Pedroso
Por trás da linha de escudos
Por trás da linha de escudos
Após nos apresentar uma alegoria crítica do país em Brasil S/A em 2014, Marcelo Pedroso volta ao Festival de Brasília com um filme mais controverso, infiltrando-se no Batalhão de Choque da PM para nos apresentar um documentário que, apesar de parecer ter uma intenção inicial, acaba se resumindo a uma alegoria vazia.
Auto-declarado como “documentarista engajado em causas de esquerda”, Pedroso vai se misturando à rotina da polícia de uma maneira tão intensa que, em determinado momento, não está mais apenas buscando conhecê-los, como também participando de treinamentos, acompanhando missões e até experimentado dar um tiro em um das cenas mais polêmicas.
Há uma sequência também de violência gratuita em uma operação na Febem que não parece deixar claro seu propósito diante da obra que se pretende apresentar. Meninos sentados no pátio, de cueca, de costas, com as mãos na cabeça, enquanto o Choque revista suas celas em busca de pedras e pedaços de grades que serviriam como armas para uma possível rebelião. Nada é problematizado, nem mesmo o exagero de um batalhão de choque para aquele serviço.
Humanizar policiais não é o problema. Óbvio que existem cidadãos ali cumprindo seus deveres, como eles repetem diversas vezes. O problema é que o filme se limita a essa obviedade, não aprofunda a compreensão daqueles indivíduos, mal sabemos seus nomes, suas vidas para além do trabalho. Se são casados, têm filhos, se vem de origem humilde. Vemos soldados adestrados, como um deles mesmo define, sem ir além.
Durante o debate, o cineasta alegou que, por ter sido recebido pelo batalhão, não poderia entrar em confronto, até para preservar o filme. Mas questionar não é necessariamente entrar em confronto. Ele faz isso com uma policial que mostra orgulhosa no Facebook as fotos de seu treinamento e formatura. Por que não poderia fazer o mesmo com soldado Peixoto quando este define os tipos de manifestantes?
Se a ideia era humanizar os policiais, por que se limitar muitas vezes a procedimentos? Mais do que isso por que ir se “adestrando” também a ponto de vestir o uniforme? Mesmo a alegoria da bandeira que tem seu círculo cortado e transformado em escudo, enquanto o verde e amarelo são queimados nos mostra exatamente o quê? Parece tão distante em força e significado da alegoria do filme anterior onde o azul vazado dava lugar ao sol.
Os poucos contrapontos com imagens da manifestação do Ocupa Estelinha e durante o processo de impeachment da presidente Dilma se perdem diante da curva que Marcelo Pedroso constrói para seu filme. É uma pena, pois tinha nas mãos uma oportunidade boa de estudo humano e reflexão.
Por trás da linha de escudos não parece querer ultrapassar de fato essa linha. Não há um movimento de transitar entre os dois lados em busca de quebrar barreiras. Há quase uma mudança de lado, continuando a deixar o véu que impede observar o outro para além de estereótipos.
Quase como uma piada, o DJ do Cine Brasília ainda nos fez sair da sessão ao som de Polícia dos Titãs.
Filme visto no 50º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.
Por trás da linha de escudos (Por trás da linha de escudos, 2017 / Brasil)
Direção: Marcelo Pedroso
Roteiro: Marcelo Pedroso
Duração: 92 min
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Por trás da linha de escudos
2017-09-24T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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