Em 2008, Joaquin Phoenix fez uma declaração que surpreendeu Hollywood. Iria parar de atuar para se dedicar à carreira de rapper. A notícia estranha visto com muito com desconfiança ganhou força quando em 2009, o ator apareceu no programa de David Letterman completamente desnorteado.
Esse burburinho e a capacidade de entrega de Phoenix ao experimento é a melhor coisa que podemos tirar de Eu Ainda Estou Aqui, mockumentary dirigido por Casey Affleck. Ele realmente nos engana e, mesmo depois de Affleck, admitir a farsa, muita gente continuou achando que o ator tinha levado a sério a proposta, tamanha foi a sua transformação e interpretação.
A curiosidade do caso e o tempo que o ator levou sustentando essa mentira que poderia ter acabado com sua carreira chamou a atenção para a obra e acabou sendo sua maior ação de marketing. O problema é que, tirando isso, não fica muita coisa do mesmo.
Tendo como proposta acompanhar a jornada de Joaquin Phoenix na sua tentativa de se tornar um cantor de rap, o documentário se torna cansativo e repetitivo. Não há uma linguagem que instigue, não há grandes peripécias que sustentem um longa-metragem e a própria maneira como eles não investem na tal carreira de músico nos faz perceber a farsa dentro da própria estrutura do roteiro do filme.
O ponto principal para isso é um show que o ator consegue fazer depois de muitas tentativas. Ele canta uma música e logo uma confusão com alguém na plateia faz com que o show seja interrompido. Fica inverossímil aquela situação, principalmente pela aceitação que estava tendo com o público que estava ali para ver o ator que ficou "doidão". Um segurança tirando o comentarista inoportuno resolveria.
Essa situação só pontua o fato de que não existia um show completo, não existiam muitas músicas ou mesmo uma intenção de carreira no ramo. Por mais que a interpretação de Joaquin Phoenix nos deixe em dúvida, é complicado sustentar a mentira diante das armadilhas que o filme acaba criando para si.
Eu Ainda Estou Aqui vale mais como experimento que como documentário ou mockumentary. Nem mesmo engraçado ele consegue ser, ao contrário da entrevista no David Letterman. Acaba se resumindo a esse registro bizarro de uma ideia meio estapafúrdia que vai do nada a lugar nenhum. É uma peça que quiseram pregar no mundo, sem um propósito de comprovação de experimento ou mesmo crítica. E, por isso, é tão cansativo. Uma pena, pois conseguiu gerar curiosidade em torno de si.
Direção: Casey Affleck
Roteiro: Casey Affleck, Joaquin Phoenix
Com: Joaquin Phoenix, Antony Langdon, Carey Perloff
Duração: 108 min.