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Trapalhões

Na minha infância, cinema nacional infantil era sinônimo de Os Trapalhões. A trupe de humoristas costumava lançar um filme por ano e era a grande espera das férias, uma vasta filmografia onde histórias engraçadas dos eternos palhaços se misturavam a contos populares, literatura clássica e paródias de filmes de sucesso. Sempre com uma linguagem fácil e inteligente para crianças de todas as idades terem diversão certa. Não por acaso, cinco filmes do grupo estão na lista dos dez mais vistos na história do cinema brasileiro.

O mais marcante para mim é “Os Saltimbancos Trapalhões”, que recentemente teve um remake bem feito, ainda que sem o mesmo brilho do original. Baseado na peça Os Saltimbancos, de Chico Buarque de Holanda, o filme teve sua história alterada, com novas músicas, e ganhou uma roupagem diferente, dentro de um circo, onde os quatros amigos Didi, Dedé, Mussum e Zacarias são sucesso por fazer o público rir, mas tornam-se desafetos do mágico Assis Satã e do Barão, o dono do circo.

Os Trapalhões na Guerra dos PlanetasOs Trapalhões no Auto da Compadecida é outro destaque. O grupo conseguiu adaptar muito bem a história de Ariano Suassuna, recontando a trama com humor, mas sem perder o viés crítico e o contexto histórico da narrativa. Talvez, por vê-los de forma tão diferente, as crianças não tenham entendido a proposta e o filme não foi recorde de bilheteria. Ainda assim, é um dos filmes mais lembrados e reprisados na televisão.

Além dos Trapalhões, outro destaque da minha infância era a Turma da Mônica. Sucesso até hoje entre crianças e adolescentes de todas as idades, nos anos 80, a turminha iniciava experimentações no cinema. As Aventuras da Turma da Mônica, uma compilação de curtas, que tinha entre eles uma aventura de Mônica com um ratinho, foi a que ficou mais famosa. Mas, para mim, a melhor lembrança é do longa-metragem A Princesa e Robô, filme que ficou perdido no tempo, já que nunca foi digitalizado, tendo apenas cópias em VHS.

A Princesa e o Robô - Turma da MônicaHoje, o cenário é outro. A Turma da Mônica fechou parceria com a Cartoon Network, tendo aventuras animadas tanto para a turma clássica quanto para a turma jovem. Isso sem falar nas animações Toy para o Youtube. Já os Trapalhões tentam se reinventar com a mesma fórmula, trazendo novos atores para repetir os tipos do quarteto em programas de televisão. Não por acaso, o remake dos Saltimbancos foi uma tentativa de resgate com menor impacto.

É curioso como um conseguiu acompanhar os novos tempos, enquanto outro parece preso ao passado. Vemos os Trapalhões com o olhar de nostalgia do grupo que foi, enquanto a turma da Mônica é descoberta, a cada dia, por novas gerações, conseguindo se comunicar com diversos públicos. Há, inclusive, causas sociais atuais como o projeto “Donas da Rua”, afinal, se empoderamento feminino está em voga, uma menina forte e líder como Mônica não poderia ficar de fora.

Falta aos estúdios apenas um caminho mais sólido no cinema. A nova tentativa é o filme em live action, com a adaptação da Graphic Novel “Laços”. Porém, por tudo que a turma da Mônica representa para a infância da maioria dos brasileiros, já merecia um longa-metragem de animação à altura. Ainda hoje, A Princesa e o Robô é seu longa-metragem mais consistente, sendo que foi lançado em 1983, quando a técnica ainda era muito limitada. A animação brasileira tem crescido muito nos últimos anos, vide o recente sucesso de Lino - Uma Aventura de Sete Vidas. Vamos torcer para que os estúdios Mauricio de Sousa também acertem nesse formato.

Texto originalmente publicado na Revista CineMagazine: Coluna Amanda Aouad de outubro/2017.

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