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Os Meyerowitz: Família Não Se Escolhe
Os Meyerowitz: Família Não Se Escolhe
Adam Sandler e um diretor indie como Noah Baumbach parece ser uma mistura estranha. The Meyerowitz Stories foi uma aposta ousada da Netflix, que concorreu e causou polêmica no último festival de Cannes e pode não ser a melhor obra do diretor de Enquanto Somos Jovens e Frances Ha, mas, sem dúvidas, traz o que tem de melhor do ator que ficou marcado por comédias bobas.
O roteiro, também assinado por Baumbach, é construído com uma junção de pedaços da vida recente da família Meyerowitz. Por isso o subtítulo original de New and Selected. Traz recursos de apresentação de capítulos dividindo entre os três filhos e mais dois acontecimentos. E é curioso como a passagem de um capítulo para o outro traz um corte que interrompe a cena com um efeito que lembra um corte de uma mesa de edição linear. Isso faz um certo eco com o hábito do pai de colecionar filmes em fitas VHS caseiras.
Porém, o subtítulo brasileiro Família Não Se Escolhe, não chega a ser infeliz. Tem o clima óbvio dessa família cheia de mágoas e dificuldades de relacionamento. Cada filho tem sua própria frustração com o patriarca vivido por Dustin Hoffman. Harold é um escultor vaidoso que se ressente por não ter feito o sucesso que imaginava merecer e sempre cobrou demais dos filhos, inclusive que fossem artistas também. Agora, aposentado da faculdade de artes, ele fica feliz com uma exposição homenagem que será feita no campus.
O roteiro acaba centrando no conflito nos irmãos Danny e Matthew, vividos por Adam Sandler e Ben Stiller respectivamente. O primeiro, apesar de mais velho, sempre se sentiu rejeitado pelo pai. Filho da segunda esposa, teve pouco contato com a figura paterna após a separação quando ainda era pequeno, tem talento para a música, mas abandonou o piano, sendo uma decepção para o pai. Já Matthew é o caçula querido, filho da terceira esposa, conviveu com ele mais de perto e tem até uma escultura com seu nome. Não seguiu a carreira artística e tem o talento para "ganhar dinheiro", porém sente que isso é uma espécie de frustração para o pai.
Eles são apresentados em separado, cada um com um capítulo e sempre com uma construção de expectativa para uma rixa, já que ambos fazem questão de frisar sempre que são "meio-irmãos". Porém, a construção narrativa acaba não sustentando essa promessa, desenvolvendo o conflito dos dois de maneira quase anti-climática. São os personagens mais aprofundados e mereciam um desenrolar ainda mais denso. E mais uma vez aqui, a atuação de Adam Sandler merece destaque pela capacidade de nos passar toda a frustração e inércia de Danny.
Já Jean, a filha do meio vivida por Elizabeth Marvel, é a verdadeira figura rejeitada pelo roteiro. Até o seu capítulo tem pouco protagonismo seu, já que ela apresenta o estopim de uma maneira quase leviana e depois abre espaço para que os dois irmãos "lavem" sua honra de uma maneira tola que caminha para uma comédia de mal gosto. Jean é o desenho desastroso da figura da mulher em todo o filme. Uma espécie de exótica, que está sempre ali, sem ser de fato notada e que o roteiro faz questão de demonstrar que não é mesmo para se importar com ela ou seus sentimentos. Os dois irmãos é que interessam.
A mesma dinâmica parece se desenvolver entre o patriarca Harold e sua atual esposa Mauree. Alcoolista sempre com atitudes absurdas como servir um tubarão cru e aguado no jantar ou proibir que a médica fale com os filhos de Harold quando ele vai parar no hospital. É uma pena que uma atriz como Emma Thompson pareça ter gostado de repetir sempre esse estereótipo da mulher sem noção, exótica ou excêntrica. Noah Baumbach cria diversos elementos estranhos para ela, mas nem mesmo aprofunda sua personagem.
A outra personagem feminina é Eliza, filha de Danny, estudante de cinema. Vivida por Grace Van Patten, a garota aparece pouco, mas tem ótimas cenas, como a primeira sequência com Adam Sandler em um carro, procurando estacionamento enquanto conversam sobre questões importantes da vida. Essa capacidade de criar situações e subtextos aparentemente desconectados dos diálogos é algo a se admirar no filme. Cria uma dinâmica própria. Já a inserção dos filmes eróticos da garota na trama soam como um estranhamento exagerado.
No final, Os Meyerowitz: Família Não Se Escolhe é um filme curioso. Tem bons momentos, mas parece não querer se arriscar de fato na discussão que propõe, acabando por se tornar vazio, mesmo com o esforço do elenco e algumas ótimas cenas.
Os Meyerowitz: Família Não Se Escolhe (The Meyerowitz Stories - New and Selected-, 2017 / EUA)
Direção: Noah Baumbach
Roteiro: Noah Baumbach
Com: Adam Sandler, Grace Van Patten, Dustin Hoffman, Elizabeth Marvel, Emma Thompson, Ben Stiller, Sigourney Weaver (part.)
Duração: 112 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Os Meyerowitz: Família Não Se Escolhe
2017-10-23T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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