
O esporte vive de grandes rivalidades. Isso atrai público, chama a atenção da imprensa e também ajuda a motivar os atletas que tem um obstáculo a mais a ser vencido. Borg vs McEnroe promete tratar de uma das grandes rivalidades que o mundo do tênis presenciou. Mas, apesar de ter como norte a lendária final de Wimbledon em 1980, o filme acaba sendo mais uma cinebiografia de Björn Borg.
O filme utiliza o velho recurso de iniciar na partida e voltar no tempo para a preparação do torneio. Além disso, há muitas cenas de flashback da infância de Borg, o que nos dá a certeza dele ser o protagonista. A curva dramática do filme se baseia na superação desse menino rebelde e pobre que consegue não apenas entrar no mundo do tênis, como se tornar um ícone dele. Um atleta idolatrado, um verdadeiro cavalheiro em quadra, incapaz de demonstrar emoções.

E é uma personagem pouco aprofundada. Traz dois flashbacks demonstrando a pressão familiar para ser "perfeito", mas não o desenvolve como Borg. Em determinado momento, ele reclama que os jornalistas só o entrevistam para perguntar sobre Borg e o filme acaba fazendo o mesmo. McEnroe está ali não para falar da sua rivalidade com o sueco, mas para servir como mais uma escada para apresentar o tenista campeão. Mesmo a inspiração que este foi para o jovem norte-americano passa quase despercebida em cena.

Não há como negar, no entanto, que o filme consegue ter uma belíssima reconstituição de época, assim como uma simulação quase perfeita das partidas, em especial a final histórica. São detalhes da grama da quadra, das roupas e raquetes da época, assessórios dos tenistas ou mesmo da plateia, como o chapéu do pai de McEnroe. Tudo foi cuidadosamente reconstituído. E, claro, as jogadas são bem delineadas, temos a sensação de estarmos ali vendo uma partida em muitos momentos.
Ainda assim, a partida final tem também problemas de ritmo e curva-dramática. A começar pelo excesso de locuções. Por mais que entendamos que uma partida de tênis pode ficar monótona e que muitos não compreendam as regras, há uma repetição excessiva das regras, explicações de pontos e situação dos tenistas que acaba deixando a final cansativa. Há também uma tensão construída no famoso tie-break que acaba sendo foco maior que o próprio resultado da partida, criando quase um anti-clímax ao pular literalmente dele para o ponto final. Sabendo ou não o resultado da famosa partida, fica previsível por um lado e frustrante por outro.
Borg vs McEnroe não é um filme ruim. A reconstituição de época e clima do torneio de Wimbledon são boas. Sverrir Gudnason e Shia LaBeouf estão bem nos papéis principais. Porém, a trama não nos parece empolgar em nenhum momento, nem criamos empatia com os dois tenistas a pondo de nos importar e torcer por eles. Fica apenas a situação curiosa dessa grande partida.
Borg vs McEnroe (Borg vs McEnroe, 2017 / Suécia)
Direção: Janus Metz
Roteiro: Ronnie Sandahl
Com: Sverrir Gudnason, Shia LaBeouf, Stellan Skarsgård
Duração: 107 min.