
Uma mulher trans, uma empregada doméstica e uma presidiária. Três mulheres, três realidades que se aproximam pela dificuldade de inclusão na sociedade e busca da sala de aula como forma de melhorar de vida.
O documentário Diários de Classe mergulha nesses três universos para discutir a educação no país e a falta de oportunidade para pessoas de periferia, negras e de baixa renda. Discute a herança escravocrata nas relações dos trabalhos domésticos, a arbitrariedade da justiça e o preconceito com transsexuais, utilizando o micro para falar do macro de uma maneira franca e direta.

Vânia Lúcia, acusada de envolvimento com tráfico de drogas, conversa sobre o drama do seu filho desaparecido e da prisão que julga indevida. A cena em que ela discute com uma colega sobre a dificuldade de lutar por seus direitos já evoca diversas questões delicadas. A falta de uma defesa adequada a ponto dela buscar o código penal para tentar estudar é um exemplo. A colega ainda fala sobre um estagiário que seria o único contato que elas tiveram até o momento com a defensoria pública.

Já Tifany é, das três, a personagem mais fragilizada. Com imensa dificuldade ainda para aprender a ler, sofre com o preconceito e, apesar de viver em um abrigo, não parece ter encontrado seu lugar no mundo. A parede escrita reforça: "ela não é tímida, ela foi silenciada".
Necessário em sua reflexão, Diários de Classe é daqueles filmes que nos tira da zona de conforto. Grita a necessidade de atitude urgente e nos deixa com um nó na garganta em diversos momentos. Um trabalho que vem coroar o bom trabalho da dupla de diretores ligada à educação e questões sociais como o projeto Lanterninha.
Filme visto no XIII Panorama Internacional Coisa de Cinema.
Diários de Classe (Diários de Classe, 2017 / Brasil)
Direção: Maria Carolina e Igor Souza
Roteiro: Maria Carolina e Igor Souza
Duração: 76 min.