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Mayara Constantino
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Pela Janela
Pela Janela
Ser demitido de um trabalho é ruim, machuca, tira o rumo, baixa a auto-estima. Quando essa demissão vem depois dos sessenta anos de idade em um trabalho a que dedicamos a vida, a situação fica pior ainda. É o que acontece a Rosália, personagem de Magali Biff, quando a fábrica onde trabalha passa por uma reformulação. Sem forçar para nada, ela acaba embarcando com seu irmão para a Argentina para acompanhá-lo em um serviço.
Em seu primeiro longa-metragem, Caroline Leone mergulha no universo dessa mulher e deixa sua atriz brilhar em cena. Magali Biff já fez alguns trabalhos no cinema, mas é uma atriz mais conhecida do teatro. Na pele de Rosália, ela consegue encontrar um tom intimista que nos toca profundamente. Sua dor não está em palavras, em gritos ou mesmo em choro, ainda que este exista em alguns momentos. É o olhar distante, a expressão apática, a sensação de vazio que ela nos passa.
Em determinado momento da viagem, ela resolve comprar uma panela de pressão que carrega por boa parte do filme. Rosália é um pouco assim, uma panela de pressão que pode estourar a qualquer momento, mas consegue controlar suas emoções, apenas imaginamos o que se passa dentro dela. Talvez por isso, a cena na beira das Cataratas do Iguaçu seja tão simbólica. A força da água, a potência de tudo aquilo é como uma renovação. Renovação essa que Rosália busca à medida que se afasta de São Paulo e se aproxima de Buenos Ares.
Nesse sentido, Cacá Amaral, que faz o irmão Zé, é um contraponto importante. Ele está ali para dar suporte, mas também para tirá-la da zona de conforto, que seria só se lamentar. Com sua simplicidade e proteção, dá espaço para sua irmã respirar novos ares e procurar sua própria vontade de continuar. A intimidade e cumplicidade dos dois vai sendo construída em tela em momentos singelos como uma cantoria no quarto de um hotel, um jantar com sorteio ou a já citada cena das cataratas.
A direção é extremamente sensível ao construir essa história sem pressa, sem preconceitos, nos deixando aproximar da personagem aos poucos. O mesmo ritmo lento com o qual ela entra e sai do luto pelo emprego, ou melhor, pela vida a que se acostumou. Chama a atenção como muito do filme é construído nas elipses. Não vemos o anúncio da demissão, apenas as consequências, por exemplo. Também não a vemos comprando a panela de pressão, nem ganhando a camisa "mais chamativa", há sempre a apresentação da situação, o corte e o depois, para que construamos o meio em nossa mente. Isso constrói uma ironia dramática que nos faz participar mais ativamente da narrativa.
Pela Janela é um filme que traz um tom lírico, ainda que o drama conduza a narrativa. É sensível, belo e emocionante em diversos aspectos. Evoca questões políticas, trabalhistas e humanas, nos dando uma construção positiva de que somos capazes de nos adaptar às adversidades e ir além.
Filme visto no XIII Panorama Internacional Coisa de Cinema.
Pela Janela (Pela Janela, 2017 / Brasil)
Direção: Caroline Leone
Roteiro: Caroline Leone
Com: Magali Biff, Cacá Amaral, Mayara Constantino
Duração: 87 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Pela Janela
2017-11-14T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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