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Matheus Vianna
panorama2017
Xará
Xará
Em 1922, o antropólogo Robert Flaherty praticamente criou o cinema documental ao lançar Nanook, o Esquimó. O que ele trouxe de diferente? A voz da pessoa comum como objeto fílmico. Algo que se popularizou com o documentário etnográfico e que, no Brasil, Eduardo Coutinho sabia fazer tão bem. Todos temos algo de interessante a ser dito e qualquer assunto pode dar um ótimo filme.
Matheus Vianna maximiza isso com Xará ao procurar "espelhos" na internet. Com uma busca em redes sociais por nomes homônimos, ele vai investigar outros Matheus Viannas pelo Brasil, conseguindo um resultado instigante e diverso de pessoas, pensamentos, idades e realidades que nos fazem rir, refletir e até nos emociona em diversos níveis.
Ao assumir a pesquisa na internet, a linguagem da narrativa também enriquece ao inserir não apenas as entrevistas via chamada com vídeo, mas pesquisas feitas nas páginas dessas pessoas, com fotos, mensagens e memes compartilhados. A montagem é bastante feliz ao buscar metáforas e relações que nos ajudam a compreender o universo daquelas pessoas.
Assim, temos um Matheus com apenas vinte e um anos que já é pai de família, lidando com sonhos e frustrações, vindo de uma família de militares, mas quebrando a tradição. E que tem como válvula de escape sua laje, espaço em que vai para ficar sozinho, olhar o céu, a cidade e refletir sobre si mesmo. Já outro Matheus, revela ser filho adotivo, se sentindo feliz e resolvido com isso. Ainda estudante, não sabe que profissão seguir e tem posicionamentos políticos claros, ainda que não seja capaz de definir o que é "política", uma das perguntas recorrentes do cineasta.
Temos ainda um Matheus que vive no interior e acaba sendo o que cria menos empatia por ser o único que não aparece em vídeo, ouvimos sua voz e vemos suas fotos e isso acaba sendo um estudo interessante do quanto prende a atenção ver e ouvir uma pessoa falando. Suas expressões, seus gestos, o espaço onde ela se encontra, tudo ajuda para compor um perfil.
O último Matheus apresentado acaba roubando boa parte da cena por ser o mais performático. Funcionário de uma farmácia em Angra dos Reis, é ator e músico, cantando em vários trechos da entrevista e apresentando uma música autoral nos créditos. Entre ironias e reflexões, Matheus passa o seu recado sobre a situação dos artistas no país e até de luta de classes.
Mas o mais interessante de Xará não é ele, ou qualquer outro, mas o conjunto desses Matheus, tão diversos e ao mesmo tempo tão próximos. De maneira simples, Matheus Vianna, o cineasta, consegue construir um discurso extremamente significativo, nos envolvendo em universos aparentemente banais, mas que nos dão a confirmação de que qualquer pessoa pode e deve ser ouvida.
Filme visto no XIII Panorama Internacional Coisa de Cinema.
Xará (Xará, 2017 / Brasil)
Direção: Matheus Vianna
Roteiro: Matheus Vianna
Com: Matheus Vianna
Duração: 82 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Xará
2017-11-16T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
cinema baiano|cinema brasileiro|critica|documentario|filme brasileiro|Matheus Vianna|panorama2017|
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