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Pantera Negra
Pantera Negra
Representatividade, esse é o principal ponto do sucesso de Pantera Negra. E é compreensível, ainda que não seja o único fator para a qualidade do filme. O fascínio do cinema vem da fase do espelho. Queremos nos ver em tela, nos identificar com as personagens, sentir que algo no tema nos toca em emoção ou experiência. Claro que podemos nos identificar com qualquer um, senão filmes com bichos, extraterrestres ou bonecos não funcionariam. Mas ver seus semelhantes em tela, não deixa de ser é importante.
Pantera Negra é um filme majoritariamente negro, mas não é só isso. São negros que vivem em um reino africano que une tecnologia a valores ancestrais de uma maneira equilibrada em importância. Discute a opção por se manter isolado do resto do mundo e como essa relação poderia ser diferente. Discute também a situação do afrodescendente fora da África e todo o preconceito criado em cima desse povo.
A mulher também é valorizada aqui em suas diversas faces. Temos a guerreira leal, a cientista genial, a princesa que se preocupa com causas humanitárias sem deixar de ser guerreira e a mãe que representa a sabedoria e também inspira coragem. As personagens femininas aqui não precisam ser salvas e, mesmo quando o são, outras mulheres estão ali no resgate, demonstrando que é apenas uma questão circunstancial. Algo raro em filmes de ação, vide Furiosa que precisa ser salva por Mad Max em algum momento e até a Mulher Maravilha que é salva em diversas cenas seja pelo seu amado, pelo Superman ou mesmo o Flash.
Destacado tudo isso, Pantera Negra é também um belo filme de ação. Foge do padrão que a Marvel vem estabelecendo de pesar a mão na comédia e constrói sua aventura com mais camadas, principalmente pelo embate principal e a construção do seu vilão. Erik Killmonger, interpretado por Michael B. Jordan, não é maniqueísta, trazendo camadas que enriquecem a discussão das diversas visões de um mesmo problema.
A trama gira em torno da sucessão do reino de Wakanda e a política internacional do país a partir da visão do novo governante. Mas o roteiro constrói suas peripécias sem uma unidade de ação, construindo pequenos plots que vão deixando a narrativa ainda mais dinâmica. Ainda que use artifícios clichês ou previsíveis para criar alguns conflitos e com alguns diálogos forçados.
A estratégia amplia também as cenas de luta e perseguição que são sempre bem orquestradas. É curioso que essa mistura de tecnologia avançada com tradição ancestral está equilibrada até mesmo nas lutas. Temos lanças e lutas corporais com golpes de artes marciais misturados a armas de ponta, que incluem inclusive meios de transporte controlados remotamente. Isso sem falar na roupa do Pantera Negra que causa inveja em muitas armaduras do Tony Stark.
T'Challa (Chadwick Boseman), Nakia (Lupita Nyong'o), Okoye (Danai Gurira) e Shuri (Letitia Wright) formam ainda um belo time que possui química e funciona junto em cena, ajudando na composição das cenas de batalha e missões, o que nos deixa com uma boa expectativa para o que farão no novo filme dos Vingadores. A propósito, a composição da serialidade Marvel aqui funciona aqui tão bem que até mesmo as duas cenas pós-créditos são importantes para a narrativa.
Pantera Negra pode não ser o melhor filme de herói já feito. Assim como T'Challa não é o primeiro super-herói negro. Mas é um filme competente em sua proposta, conseguindo trabalhar temas importantes dosando-os com a diversão necessária para um filme do gênero. Não é a toa que muitos saem do cinema com o grito na garganta de “Wakanda Forever”.
Pantera Negra (Black Panther, 2018 / EUA)
Diração: Ryan Coogler
Roteiro: Ryan Coogler, Joe Robert Cole
Com: Chadwick Boseman, Michael B. Jordan, Lupita Nyong'o, Danai Gurira, Letitia Wright, Daniel Kaluuya, Martin Freeman, Winston Duke, Forest Whitaker, Andy Serkis
Duração: 134 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Pantera Negra
2018-02-25T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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