
Representatividade, esse é o principal ponto do sucesso de Pantera Negra. E é compreensível, ainda que não seja o único fator para a qualidade do filme. O fascínio do cinema vem da fase do espelho. Queremos nos ver em tela, nos identificar com as personagens, sentir que algo no tema nos toca em emoção ou experiência. Claro que podemos nos identificar com qualquer um, senão filmes com bichos, extraterrestres ou bonecos não funcionariam. Mas ver seus semelhantes em tela, não deixa de ser é importante.
Pantera Negra é um filme majoritariamente negro, mas não é só isso. São negros que vivem em um reino africano que une tecnologia a valores ancestrais de uma maneira equilibrada em importância. Discute a opção por se manter isolado do resto do mundo e como essa relação poderia ser diferente. Discute também a situação do afrodescendente fora da África e todo o preconceito criado em cima desse povo.

Destacado tudo isso, Pantera Negra é também um belo filme de ação. Foge do padrão que a Marvel vem estabelecendo de pesar a mão na comédia e constrói sua aventura com mais camadas, principalmente pelo embate principal e a construção do seu vilão. Erik Killmonger, interpretado por Michael B. Jordan, não é maniqueísta, trazendo camadas que enriquecem a discussão das diversas visões de um mesmo problema.

A estratégia amplia também as cenas de luta e perseguição que são sempre bem orquestradas. É curioso que essa mistura de tecnologia avançada com tradição ancestral está equilibrada até mesmo nas lutas. Temos lanças e lutas corporais com golpes de artes marciais misturados a armas de ponta, que incluem inclusive meios de transporte controlados remotamente. Isso sem falar na roupa do Pantera Negra que causa inveja em muitas armaduras do Tony Stark.
T'Challa (Chadwick Boseman), Nakia (Lupita Nyong'o), Okoye (Danai Gurira) e Shuri (Letitia Wright) formam ainda um belo time que possui química e funciona junto em cena, ajudando na composição das cenas de batalha e missões, o que nos deixa com uma boa expectativa para o que farão no novo filme dos Vingadores. A propósito, a composição da serialidade Marvel aqui funciona aqui tão bem que até mesmo as duas cenas pós-créditos são importantes para a narrativa.
Pantera Negra pode não ser o melhor filme de herói já feito. Assim como T'Challa não é o primeiro super-herói negro. Mas é um filme competente em sua proposta, conseguindo trabalhar temas importantes dosando-os com a diversão necessária para um filme do gênero. Não é a toa que muitos saem do cinema com o grito na garganta de “Wakanda Forever”.
Pantera Negra (Black Panther, 2018 / EUA)
Diração: Ryan Coogler
Roteiro: Ryan Coogler, Joe Robert Cole
Com: Chadwick Boseman, Michael B. Jordan, Lupita Nyong'o, Danai Gurira, Letitia Wright, Daniel Kaluuya, Martin Freeman, Winston Duke, Forest Whitaker, Andy Serkis
Duração: 134 min.