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O Paradoxo Cloverfield
O Paradoxo Cloverfield
Em 2008, Cloverfield impactou o mundo. Não explicava muito, mas o estilo mockumentary trazia uma dinâmica e ainda um plus, com as imagens antigas gravadas na fita. Rua Cloverfield, 10 de 2016 não parecia uma continuação, um suspense bem executado que, no final, unia o universo de maneira inteligente e criativa. O Paradoxo Cloverfield até tenta, mas acaba sendo a grande decepção da franquia.
Lançado de surpresa pela Netflix, o filme busca respostas para o fenômeno, mas acaba se perdendo em paradoxos. A Estação Cloverfield tem a missão de testar o acelerador de partículas Shepard que poderá dar fonte inesgotável de energia ao planeta Terra. Porém, algo dá errado e o experimento acaba abrindo portais de universos paralelos fazendo a tripulação ter que encontrar uma forma de retornar, enquanto que, na Terra, as consequências também são desastrosas.
O primeiro problema do filme é não definir o seu foco. Ao intercalar os acontecimentos no espaço com a trama terrestre, acaba dividindo a tensão e mesmo a atenção do espectador, principalmente porque a jornada de Michael com a jovem Molly não tem muita função narrativa. É apenas mais um elemento emocional para o arco da tripulante Ava Hamilton, já que ambos são marido e mulher.
É verdade que, se ficasse apenas no espaço, as comparações com Alien seriam ainda maiores. Sua curva se assemelha muito ao filme original de Ridley Scott com algumas pitadas de O Enigma do Horizonte. O problema é que o suspense não é bem construído, nos dando apenas uma sucessão de plots estranhos com clichês e correrias que parecem mais uma contagem regressiva de quem vai morrer.
Julius Onah tenta, mas não consegue construir a tensão necessária para que embarquemos na trama de maneira satisfatória. Tudo parece antecipado ou mesmo repetido. E os próprios recursos do roteiro acabam prejudicando a imersão completa, como a ajuda de um braço em determinado momento. Há apelos emocionais também que parecem gratuitos, como a já citada trama do Michael com Molly, ou mesmo alguns detalhes da vida de Hamilton nesse universo paralelo.
Ainda assim, o elenco está bem. Ou pelo menos é competente em nos fazer crer em suas personagens mesmo que estas carreguem muitos estereótipos ou mesmo não sejam aprofundados, cumprindo apenas funções dramáticas. É curioso também observar a tentativa de representatividade, colocando um membro de cada país dentro da nave com bandeira no uniforme para não deixar dúvidas e ainda tirar a ideia de Estados Unidos salvador do mundo, até porque a protagonista, Hamilton, é do Reino Unido.
De qualquer maneira, O Paradoxo Cloverfield não consegue passar de uma decepção. Longe da tensão e novidade trazida pelo filme de Matt Reeves ou mesmo do competente suspense dirigido por Dan Trachtenberg, tenta explicar e acaba se perdendo em um filme mais burocrático que envolvente. Uma pena. Vamos aguardar o próximo (que deve ser lançamento em outubro de 2018) para ver o que a saga nos reserva.
O Paradoxo Cloverfield (The Cloverfield Paradox, 2018 / EUA)
Direção: Julius Onah
Roteiro: Oren Uziel
Com: Gugu Mbatha-Raw, David Oyelowo, Daniel Brühl, Elizabeth Debicki, John Ortiz, Chris O'Dowd, Ziyi Zhang, Aksel Hennie
Duração: 102 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
O Paradoxo Cloverfield
2018-03-08T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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