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O bebê de Rosemary
O bebê de Rosemary
Clássico do terror, O bebê de Rosemary é o segundo filme da chamada "trilogia do apartamento" de Roman Polanski. Um filme perturbador não pelo que mostra, mas pelo que sugere em suas diversas camadas. Não deixa de ser curioso que um cineasta tão controverso em sua vida pessoal traga em sua estreia em Hollywood uma obra tão reflexiva sobre a sociedade estadunidense e o papel da mulher.
Baseado na obra homônima de Ira Levin, O bebê de Rosemary conta a história do casal Guy e Rosemary Woodhouse que se muda para um apartamento onde conhece um simpático casal de idosos. O problema é que eles começam a interferir na vida dos dois de uma maneira que assusta a jovem, principalmente após ela ficar grávida e acontecimentos estranhos começarem a fazê-la desconfiar que os vizinhos e seu marido estão envolvidos com bruxaria.
O bom de revisitar clássicos é poder ir descascando as camadas a depender da época em que a assistimos. Polanski é descrente e pegou a temática da bruxaria para utilizar de maneira clichê em relação ao papel da mulher em seitas demoníacas, como se uma coisa estivesse completamente ligada a outra. E ainda joga com o estereótipo da mulher "louca". Porém, como a maioria do público está mais para aqueles que afirmam que não creem "en brujas pero que las hay las hay", o filme acaba construindo um suspense angustiante de uma vítima em busca de apoio.
Mia Farrow nos entrega todo o seu desespero para proteger seu filho de algo que não conhece completamente, nos deixando envolvidos em seu drama. Ainda que a atuação de maior destaque da obra seja mesmo de Ruth Gordon como a vizinha Minnie, papel que lhe rendeu um Oscar. É possível construir metáforas em relação ao próprio papel da mulher, submissa na sociedade da época, sem poder de decisão sob a família, que não trabalhava e dependia completamente do marido, até na escolha do obstetra que deveria se consultar.
Há também o papel exacerbado da mãe. Rosemary faz de tudo para proteger seu filho e mesmo a angustiante reviravolta final só comprova isso. Há um instinto maior de maternidade que parece querer reforçar-se o tempo todo. E essa mesma mulher desacreditada, tratada como louca, ou mesmo objeto, de repente, ganha um status especial, "porque mãe é mãe".
As atitudes do marido também trazem a possibilidade de debates intermináveis. A cena em que o bebê é concebido, por exemplo, diz muito na atitude da jovem quando acorda toda arranhada e questiona assustada como ele transou com ela desacordada. Ele diz que foi o vinho e que foi quase necrofilia, mas tem um sorriso no rosto. E talvez isso nos assuste mais ainda, assim como assusta a Rosemary que passa ali a ter uma quebra do relacionamento, que vai enfraquecendo cada vez mais.
E o curioso é que tudo isso está ali no filme, ainda que possa não ter sido a intenção de Polanski, que pode apenas ter repetido os estereótipos sem uma intenção crítica. O maior mérito do diretor é mesmo a construção do medo com sua câmera e da mise-en-scène que nos deixa perturbado muito mais com a sugestão que o explícito. Nem mesmo um corpo que cai logo no início do filme é mostrado, ficamos com as expressões de horror dos que assistem.
São essas questões que fazem de O bebê de Rosemary uma referência do gênero. Uma obra que buscou ir além do susto ou mesmo da construção do medo através do grotesco. Ainda que as alucinações da jovem tragam o monstro, não é ele quem mais a atormenta. É a sociedade que a cerca e que deseja que ela cumpra um papel em seu plano. Seja o marido ambicioso ou o grupo fanático.
Um filme que assusta em suas camadas e nos faz pensar para além dele. Para aquilo que ele representa no cenário cinematográfico e na carreira dos envolvidos, inclusive.
O bebê de Rosemary (O bebê de Rosemary, 1968 / EUA)
Direção: Roman Polanski
Roteiro: Roman Polanski
Com: Mia Farrow, John Cassavetes, Ruth Gordon
Duração: 137 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
O bebê de Rosemary
2018-04-02T15:46:00-03:00
Amanda Aouad
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