Os Smurfs e a Vila Perdida
Criado pelo belga Peyo, os Smurfs foram grande sucesso na televisão dos anos 80, mas, no cinema, as criaturinhas azuis não conseguiram emplacar grandes tramas. As duas primeiras tentativas traziam uma aventura no planeta Terra, misturando os desenhos com live action e descaracterizando muito da premissa ingênua da proposta. O filme de 2017 tenta resolver isso e consegue bom resultado, ainda que afaste o público adulto.
Os Smurfs e a Vila Perdida concentra sua trama na Smurfette. Única menina da vila, criada pelo vilão Gargamel, mas transformada pelo amor do Papai Smurf, a garotinha está em crise de identidade, afinal não se sente uma smurf de verdade e não sabe qual o seu propósito na vida, já que cada um dos seus companheiros tem o próprio propósito no nome. Em sua busca, acaba descobrindo uma vila onde só há mulheres.
O argumento é feliz em diversos aspectos, dialogando bem com as questões feministas de representação no cinema. A personagem chegou a emprestar seu nome e exemplo para uma das teorias feministas (O Princípio de Smurfette) que avalia os filmes onde há sempre apenas uma representante mulher em meio aos homens para dizer que existe representatividade. Dar a Smurfette uma vila inteira de mulheres e elas ainda serem guerreiras é um bom começo.
O roteiro, no entanto, é ingênuo e infantil ao extremo, não explorando as possíveis camadas que o tema traria, ainda que traga algumas piadas sobre o paternalismo e machismo. Isso não significa que não cumpra o seu propósito, construindo bem a curva dramática e os plots que vão entretendo o público infantil, com aventuras dinâmicas, engraçadas e com algumas músicas.
Acaba sendo um filme mais coerente e agradável de acompanhar que os dois primeiros, onde a mistura não pareceu funcionar bem, não agradando nem aos adultos, nem às crianças. Aqui, há uma estrutura bem realizada, ainda que muitas soluções sejam excessivamente simples e as piadas muitas vezes bobas aos olhos adultos.
Ficam também as perguntas, afinal, de onde surgiram esses seres azuis? Sejam os meninos da vila do Papai Smurf ou as meninas da vila da Magnólia, que não é chamada de mamãe, construindo outra estrutura de organização, já que ela é apenas a “líder”, não dando uma sensação hierárquica possível de um matriarcado. O que não deixa de ser curioso.
Com uma mensagem positiva e algumas aberturas a reflexões, Os Smurfs e a Vila Perdida acaba sendo uma boa surpresa. Bem feito visualmente, com cenários criativos, principalmente na floresta proibida, muitas cores e uma direção dinâmica que explora bem os planos, seja nas cenas de suspense ou divertidas. É um filme infantil, mas que com qualidade.
Os Smurfs e a Vila Perdida (Smurfs: The Lost Village, 2017 / EUA)
Direção: Kelly Asbury
Roteiro: Stacey Harman e Pamela Ribon
Duração: 90 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Os Smurfs e a Vila Perdida
2018-04-23T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
animacao|critica|infantil|Kelly Asbury|
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