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Aos Teus Olhos
Aos Teus Olhos
Em tempos de “tribunais” na internet e propagação de fake news, há uma tendência a se esperar de Aos Teus Olhos a mesma premissa do filme dinamarquês A Caça, em que um professor primário é acusado injustamente por uma das alunas de assédio, sendo perseguido pela comunidade local como pedófilo. Porém, o filme de Carolina Jabor vai além disso.
Em uma estratégia próxima a da peça de Luigi Pirandello, Assim é (se lhe parece), o roteiro de Lucas Paraizo não dá ao público uma verdade, mas possibilidades de versões para um mesmo fato. E a diretora consegue construir bem essa dubiedade, dosando aquilo que ela revela ou não ao espectador, que vai construindo a sua própria conclusão.
O maior mérito dessa dubiedade acaba sendo a interpretação de Daniel Oliveira. Preciso em não transparecer completamente uma culpa ou inocência, a personagem é construída tendo atitudes suspeitas ao mesmo tempo em que se angustia diante de uma possível injustiça vivida. Há detalhes em suas atitudes que nos envolvem e confundem, mudando de opinião ao juntarmos os elementos.
É curioso como, ao lançar a dúvida na mente do espectador, o filme acaba o convidando a participar mais ativamente da obra. Ao mesmo tempo, ajuda a refletir sobre o mundo de hoje, onde é tão fácil julgar alguém por chamadas de matérias que são compartilhadas em redes sociais ou por qualquer depoimento acusatório simples.
A criança, alvo da acusação, é preservada de uma maneira tamanha que é possível duvidar até mesmo do que foi dito exatamente por ela. Ao não nos mostrar sua fala para a mãe, e sim, a versão desta do que foi dito, o filme abre margem para diversas interpretações. E não cai na armadilha de ter a “versão” da vítima desacreditada apenas pelo viés de ser a fala de uma criança.
Ainda assim, o filme acaba caindo em alguns clichês e exageros que podem construir um viés de interpretação preconceituoso ou mesmo um incômodo por algumas atitudes que possam parecer irreais. Ao contrário do protagonista, a maioria das personagens são rasas, estereotipadas e, assim, com atitudes dúbias ou maniqueístas. Pode ser uma estratégia para representar a própria horda de "juízes" das redes sociais, mas acaba enfraquecendo o debate.
A própria opção de não buscar a verdade, mas apenas deixar que a plateia experimente a experiência de julgar sem provas, ou tomar partidos sem maiores informações, acaba construindo essa sensação. É como se a verdade não importasse, ainda que possam existir diversas verdades, como propõe o próprio Pirandello. Mas isso também pode dar margens para interpretações perigosas sobre as próprias lutas contra abusos e desqualificação da vítima. Tão perigosas quanto a atitude de se condenar um inocente.
De qualquer maneira, Aos Teus Olhos é um filme que instiga. Bem construído técnica e esteticamente, traz uma programação de efeitos de suspense e melodrama ao mesmo tempo, que acabam casando bem em cena. Um filme que nos convida a pensar e instiga a julgar nossas próprias atitudes diante do exposto.
Aos Teus Olhos (Aos Teus Olhos, 2018 / Brasil)
Direção: Carolina Jabor
Roteiro: Lucas Paraizo
Com: Daniel de Oliveira, Luisa Arraes, Gustavo Falcão, Marco Ricca, Malu Galli
Duração: 87 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Aos Teus Olhos
2018-05-04T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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