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Tungstênio
Estranhamento. Essa é a sensação causada pela insistente voz de Milhem Cortaz, literalmente parando a narrativa de Tungstênio de tempos em tempos. Baseado no premiado quadrinho de Marcello Quintanilha, o novo filme de Heitor Dhalia fica no meio do caminho.
Adaptações de quadrinhos são sempre delicadas, principalmente se busca-se transportar para a tela grande o estilo próprio da obra original. Ritmo e enquadramentos acabam não combinando com o próprio estilo do diretor de filmes com Nina, O Cheiro do Ralo e À Deriva, resultado em uma obra instável.
De qualquer maneira, há atrativos na narrativa com tramas paralelas que percorre bairros de Salvador a partir de um acontecimento: dois homens pescando de bomba. Seu Ney, ex-militar, interpretado por José Dumont, incomodado com a situação, quer pará-los de qualquer maneira, acompanhado do jovem traficante Cajú (Wesley Guimarães), que acaba pedindo ajuda do policial Richard, vivido por Fabrício Boliveira.
O filme traz ainda a trama de Keira, interpretada por Samira Carvalho, esposa de Richard que busca coragem para largar o marido com quem vive um relacionamento conturbado de brigas, traições e sofrimento. De longe, a menos resolvida do roteiro, que parece construir um caminho e se perde durante a projeção sem dizer a que veio. A virada da personagem parece pouco crível depois de tudo que foi sendo desenvolvido nas cenas anteriores, o que deixa uma sensação ruim ao final.
O roteiro vai intercalando o ponto de vista das quatro personagens em um ritmo ágil não buscando construir necessariamente uma curva dramática tão tradicional. Há pequenos plots em cada uma delas que não se fecham necessariamente ou trazem alguma mudança significativa. A dinâmica do processo é que parece ser o mais importante. Há uma ironia no ar que é pontuada exageradamente pelo narrador onisciente na voz over de Milhem Cortaz.
A direção busca simetria com os quadrinhos trazendo alguns enquadramentos incômodos como o excesso de contra-plongées e big closes, além de uma montagem que muitas vezes quebra o eixo em busca da construção de uma confusão espacial para o espectador. Acaba soando over na tela grande, não conseguindo vender tão bem a estética que poderia ser melhor adaptada para o novo meio.
Ainda que estranho, Tungstênio acaba sendo uma experiência instigante quando acostumamos com a proposta e embarcamos na aventura. Um filme sem um grande propósito, mas com pequenos arcos que trazem algumas camadas. Há problemas, mas também méritos e geram curiosidade para o produto original, o que já é um grande mérito.
Tungstênio (Tungstênio, 2018 / Brasil)
Direção: Heitor Dhalia
Roteiro: Marçal Aquino, Fernando Bonassi, Marcello Quintanilha
Com: Fabrício Boliveira, Samira Carvalho, José Dumont, Wesley Guimarães
Duração: 80 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Tungstênio
2018-07-01T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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