
O Contratempo é um filme de suspense que busca em seus artifícios nos surpreender. Não apenas com um plot twist no último ato. Mas com detalhes durante toda a projeção. Falar dele, então, é um exercício delicado, para não dar spoilers e estragar a experiência.
Oriol Paulo ficou conhecido pelo controverso O Corpo e foi roteirista também de Os Olhos de Júlia. Aqui, ele repete muitas de suas marcas autorais, mas parece mais maduro, assumindo suas referências e demonstrando querer se arriscar mais na narrativa não linear repleta de flashbacks e pontos de vistas distintos.

Lidando com nossa curiosidade, o roteiro peca no excesso de explicações. Por ser narrado pelo duelo verbal entre Adrian e Virginia, o filme acaba sendo didático nos acontecimentos, com direito a resumos e deduções que poderiam ser jogadas para o espectador e acabam mastigadas a ponto de antecipar algumas surpresas, principalmente, a reviravolta final.

É tão difícil analisar a obra sem antecipar algumas questões que mesmo a atuação do elenco tem suas reviravoltas. Um bom suspense é como um jogo de pôquer, temos que estar atentos e desconfiar de tudo. E aí está a graça de experimentar embarcar naquele mundo como um detetive, ao melhor estilo das obras de Agatha Christie.
Impossível não notar também as referências a Alfred Hitchcock, em especial Psicose, incluindo uma cena de um carro sendo jogado no lago. Mas também em momentos onde uma janela acaba sendo uma peça chave. Sem querer esconder suas referências, Oriol Paulo brinca com a atmosfera de seu filme de maneira competente.
Um Contratempo pode não ser dos melhores filmes de suspense já vistos. Também está longe de ser um dos melhores filmes espanhóis do gênero. Mas traz em si uma aura que instiga, envolve e chama a atenção em um campo cada vez mais repetitivo.
Um Contratempo (Contratiempo, 2016 / Espanha)
Direção: Oriol Paulo
Roteiro: Oriol Paulo
Com: Mario Casas, Ana Wagener, Jose Coronado, Bárbara Lennie, Francesc Orella
Duração: 106 min.