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Marcelo Martinessi
Margarita Irun
As Herdeiras
As Herdeiras
Adaptação, reaprendizado, novas perspectivas. É sobre isso que se trata As Herdeiras, filme premiado em Berlim e Gramado que agora tenta uma indicação ao Oscar como representante do Paraguai. Um filme que consegue se conectar com muito pouco, principalmente pelo talento do trio que atrizes que o encabeçam.
Chela (Ana Brun) e Chiquita (Margarida Irun) estão juntas há muitos anos. Há um desgaste visível na relação, ainda que Chiquita não pareça levar tão a sério os sinais de Chela. Esta está chateada com a situação financeira em que as duas se encontram, parecendo mais arredia. Mas quando Chiquita acaba presa por causa das dívidas, Chela se vê perdida.
Um indício de uma certa relação abusiva. Chela não parece ser apta a viver só, sempre dependente emocionalmente e fisicamente de Chiquita. Ela que dirige o carro, que toma as decisões na casa, negocia os produtos à venda, que conduz a rotina. Chela só passa os seus dias pintando seus quadros. Ao se ver só, até medo de dormir sozinha ela tem, pedindo ajuda a empregada das duas.
Há uma sutileza na construção da situação. Não é preciso se explicar muito, vamos percebendo os detalhes da relação e problemas em pequenos gestos, na postura de ambas, no olhar de Chela ao deixar Chiquita no presídio. As emoções vão sendo construídas nos silêncios. Na dor do pensar, mais até no que do agir, ainda que acompanhemos Chela aprendendo a agir sozinha, sem Chiquita.
Sendo levada quase pela incapacidade de dizer não, Chela acaba se tornando uma espécie de motorista particular de senhoras que se encontram para jogar cartas. Toda a dificuldade da situação é transmitida com a senhora sentada em uma cadeira perto da porta, enquanto ao fundo as demais senhoras jogam ao redor da mesa. E a aproximação de Angy (Ana Ivanova), mais nova, acaba sendo chave para a libertação de Chela. Há muitas cenas no carro que vão construindo a relação das duas, a maneira como ela vai quebrando as barreiras da fechada senhora de maneira sutil, em pequenos gestos como um apelido ou uma experiência nova.
Com uma fotografia a maior parte do tempo fechada, com filtros que trazem uma sensação visual de penumbra, a obra vai traduzindo essa angústia interna de Chela e é sensível em sua transformação também, como uma cena chave onde o vento conduz a explicação nas entrelinhas, no não dito, na expressão, nos gestos. O próprio enquadramento muitas vezes é extremamente feliz, como a posição da cadeira na porta da casa com o jogo de cartas ao fundo, ou quando ela muda para a janela, em pé e como isso significa os passos a serem dados. Ou a cena que ela vê por entre a porta.
De maneira sensível, Marcelo Martinessi traz esse universo tão feminino e ao mesmo tempo com valores tão universais para As Herdeiras. Uma obra que nos encanta pelos pequenos detalhes e pela força de suas personagens tão bem interpretadas.
As Herdeiras (Las herederas, 2018 / Paraguai)
Direção: Marcelo Martinessi
Roteiro: Marcelo Martinessi
Com: Ana Brun, Margarita Irun, Ana Ivanova
Duração: 98 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
As Herdeiras
2018-09-26T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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