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Benzinho
Benzinho
Considerado o melhor filme do Festival de Gramado pelo júri popular e pelo júri da crítica, Benzinho é uma obra especial em diversos aspectos porque traz uma verdade muito própria para a tela, com uma narrativa gostosa de acompanhar, personagens carismáticos e questões a qualquer mãe, como a síndrome do ninho vazio.
Irene é uma mulher típica de classe média que se divide entre o cuidado da casa e dos filhos com bicos para ajudar nas finanças da casa, já que seu marido está passando por dificuldade em sua pequena livraria de bairro e vive sonhando com planos maiores do que pode alcançar. Sua irmã também passa por uma crise pessoal, separando do marido agressivo e indo morar com o filho na sua casa. Para completar, seu filho mais velho é convidado para morar na Alemanha, antecipando uma separação para a qual ela ainda não estava preparada.
Karine Teles encarna essa mulher de maneira tão profunda e complexa que, por si só, impacta e envolve o espectador, o fazendo embarcar na obra. A cena em que ela recebe a notícia do convite simboliza isso com sua expressão que não sabe se fica feliz ou triste, transparecendo toda a angústia interna daquela mudança que traz orgulho e felicidade ao mesmo tempo que dor e saudade. E Gustavo Pizzi consegue traduzir isso em uma imagem poética, simples e, ao mesmo tempo, repleta de significados que é a dos dois deitados, ele em posição fetal, em uma boia no meio do mar em um plano plongée.
São por imagens assim e construções poéticas diversas, na montagem ou em planos bem trabalhados, que o filme ganha a crítica especializada. Uma obra com sensibilidade para tratar sentimentos no limiar entre a emoção autêntica e o exagero melodramático, corajoso em construir momentos sublimes de dor e alegria como uma mãe cantando e dançando na cozinha tarde da noite. E que brinca com as possibilidades daquela atrapalhada e carismática família.
O roteiro chama a atenção também pela construção dessa mulher moderna e antiga ao mesmo tempo, que é o sustento emocional de sua casa, mas também é tão frágil a ponto de buscar a aceitação de uma antiga e insensível patroa em um momento de conquista pessoal. Uma mulher que precisa literalmente deitar no chão para suportar tudo que lhe pesa, ao mesmo tempo em que um olhar distante pode considerar um drama exagerado.
Um filme que chama a atenção do público em geral, por sua verdade em tela. Pela maneira como trabalha risos e lágrimas de maneira tão fluída, emocionante e divertida ao mesmo tempo. Com dramas capazes de nos identificarmos de alguma maneira. E que nos mostra que o popular pode ser trabalhado para agradar os mais diversos públicos.
Acima de tudo,como induz o título, trata de um filme de afetos. Do amor entre uma mãe e um filho. Do apoio e suporte em uma relação entre duas irmãs. Do ritmo de conflitos e superações de uma família de classe média. De sonhos e vislumbres de um futuro melhor, que é inerente a qualquer ser humano.
Benzinho destaca-se no cenário nacional, construindo uma bela ponte entre intelecto e emocional. Um filme tecnicamente bem feito que nos envolve e emociona. Daquelas experiências que nos faz sair do cinema sorrindo e ainda reverbera por muito tempo.
Benzinho (Benzinho, 2018 / Brasil)
Direção: Gustavo Pizzi
Roteiro: Gustavo Pizzi, Karine Teles
Com: Karine Teles, Otávio Müller, Adriana Esteves, Konstantinos Sarris, Mateus Solano, César Troncoso
Duração: 95 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Benzinho
2018-09-08T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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