Next Gen
A Netflix tem investido cada vez mais em filmes próprios. O resultado, a maioria das vezes, tem saído obras que parecem rascunhos de outras conhecidas, mas não deixa de ser um exercício curioso e que funciona para o público a que se destina.
A recente animação feita em parceria com o estúdio Baozou lembra muito Operação Big Hero. Uma garotinha, revoltada com o mundo após a perda do pai, encontra um enorme robô, criando um laço de amizade que, a princípio, parece apenas uma aventura individual, mas logo os dois terão que enfrentar um vilão para salvar o mundo.
Next Gen, porém, tem suas particularidades que o tornam, no mínimo, instigante, ainda que seu roteiro não aprofunde tanto os temas que traz e sua estrutura pareça confusa e sem nexo muitas vezes. Talvez seu maior triunfo seja construir uma personagem tão carismática quanto o robô 7723. Sua capacidade de amar e se apegar pela rebelde Mai envolve o espectador que acaba se identificando com a dificuldade de “deletar” memórias, mesmo que para isso tenha que abrir mão de coisas essenciais para sua sobrevivência.
A racionalidade irracional do amor e a dependência cada vez maior da sociedade pela tecnologia são temas que estão nas entrelinhas de toda a obra, construindo camadas, ainda que frágeis, através de metáforas instigantes. A convenção para anunciar o novo robô, por exemplo, lembra muito a expectativa a cada novo lançamento de um modelo de celular, em especial o iPhone quando Steve Jobs ainda era vivo.
A substituição do ser humano pelas máquinas também está lá em diversos detalhes, inclusive quando vemos que os jogos de futebol não são mais disputados por seres humanos e sim por robôs. A relação da mãe da protagonista com as máquinas também traz esse efeito que parece benéfico, mas acaba trazendo malefícios para as relações humanas. E claro, a questão do bullying e como a antagonista Ani se utiliza de seus robôs para bater nela.
O filme traz referências estéticas de Blade Runner, Wall-E e de diversos filmes de ficção científica, construindo uma cidade futurista, mas também sendo possível manter um bairro típico de classe média estadunidense para construir essa relação emocional com a família principal, como se buscasse um elo de identificação, já que é formada por uma mãe dispersa, uma filha rebelde, um cachorro engraçado e um robô.
O fato é que Next Gen cria um universo ficcional rico e passível de ser explorado em diversas camadas, com bons personagens e uma técnica bem feita. Porém, o seu roteiro acaba preferindo o caminho fácil da eterna luta do bem contra o mal, com um vilão maniqueísta e um plano mirabolante para destruir a humanidade. E que ainda acaba tendo resoluções simplistas e convenientes, pouco trabalhadas.
De qualquer maneira, as cenas de luta são bem feitas e os efeitos não deixam muito a dever à estúdios como Dreamworks ou Pixar. É uma aventura com elementos para divertir e emocionar seu público-alvo principal, as crianças. Ainda que tenha elementos que poderiam ser melhor desenvolvidos para atingir outros públicos, não se pode dizer que não cumpra seu objetivo.
Next Gen (Next Gen , 2018 / China / EUA)
Direção: Kevin R. Adams, Joe Ksander
Roteiro: Kevin R. Adams, Joe Ksander
Com: Jason Sudeikis, Michael Peña, David Cross
Duração: 90 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Next Gen
2018-09-12T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
animacao|critica|infantil|Joe Ksander|Kevin R. Adams|
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