
Após três filmes solos e dois com seus arqui-inimigos aliens, O Predador chega aos cinemas com a missão de renovar a franquia. E até certo ponto consegue, trazendo elementos novos para a trama e um gancho para um caminho completamente diferente em futuras investidas. Seu tom, porém, não se define entre o horror e a comédia, o que acaba não surtindo bons efeitos.
Diretor de filmes de ação e comédia como Homem de Ferro 3, Shane Black chegou para repaginar a franquia do caçador alienígena. O tom que imprime soa como uma paródia muitas vezes, uma espécie de homenagem torta com piadas e referências a críticas, inclusive, mas acaba se levando a sério demais nas cenas de ação, o que torna a proposta confusa não nos fazendo embarcar nem no medo, nem nas piadas que parecem muitas vezes de mal gosto, ainda que o tom debochado cristalizado nas obras da Marvel acabe conquistando grandes públicos.

É complicado analisar o roteiro, pois ele tem reviravoltas tão mirabolantes e explicações tão frágeis que a gente passaria o filme inteiro buscando essas incongruências. Não faz nenhum sentido e os roteiristas parecem não fazer questão que faça. Vão jogando explicações na tela apenas para que sigamos o fluxo, aceitando a “missão” do primeiro predador e também a do segundo. Assim como as reviravoltas do cachorro. Isso sem falar em todos os perfis dos humanos e a pouca coerência nas ações do exército.
Talvez a piada sobre o nome predador não ser correto, já que ele caça por esporte, seja o recado maior para que o espectador de que pouco importa a coerência ali. O que importa é que o nome predador é “legal”. E é até possível ter essa suspensão de descrença para embarcar na aventura. Só não dá para pedir que a gente tenha medo dele ou fique tenso em qualquer momento da trama, ainda que a música pule em nossos ouvidos pedindo isso, após ouvir piadas infames com comparações absurdas e desrespeitosas como a com a atriz Whoopi Goldberg.

As cenas de ação são bem orquestradas, mas acabam não produzindo a adrenalina necessária diante de tantas piadas infames. De qualquer maneira, é um filme ágil, com uma boa montagem e algumas cenas bem feitas, principalmente nas cenas da floresta, se temos uma certa memória afetiva pelo primeiro filme. Ainda assim, nada que traga uma novidade ou mesmo uma inovação para o gênero. Não que isso seja essencial, mas o filme acaba sendo um genérico de muitos outros que vemos por aí, ainda que tente em sua trama criar uma espécie de mitologia nova, inclusive com discussões filosóficas sobre evolução das espécies. Longe da profundidade sobre vida alienígena e possibilidades de hibridização que vemos em uma série como Arquivo X, por exemplo.
O Predador é uma aposta arriscada, principalmente analisando o seu desfecho e o gancho que deixa para possíveis sequências. Uma sensação de que estamos cada vez mais requentando ideias em blockbusters amparados em personagens criados há mais de três décadas, sem a capacidade de inovações. Não deixa de ser triste que o entretenimento esteja seguindo esse caminho. Não precisamos esperar uma grande obra de arte, mas a sensação que fica é mesmo de esgotamento. A despeito disso, é bem capaz de fazer um grande sucesso com continuação para muito breve.
O Predador (The Predator, 2018 / EUA)
Direção: Shane Black
Roteiro: Fred Dekker, Shane Black
Com: Boyd Holbrook, Trevante Rhodes, Jacob Tremblay, Keegan-Michael Key, Olivia Munn, Sterling K. Brown
Duração: 107 min.