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Yonlu
Yonlu
Jovem, talentoso, inteligente e com sinais de depressão. A história de Vinícius Gageiro reflete a angústia de muitos adolescentes que já pensaram em se matar sem nem saber exatamente o porquê desse sentimento. É o que explica o psiquiatra logo no início do filme. Uma ficção que se utiliza do drama lírico para contar os últimos dias desse jovem artista de codinome Yonlu.
Morto em 2006 após um suicídio que foi influenciado por um fórum online e no qual ele foi narrando os passos à medida em que ia cometendo o ato, Yonlu é uma representação e um alerta para algo que parece crescer nas redes, a maneira leviana como as pessoas se comportam no ciberespaço, protegidas pela tela do computador.
O diretor Hique Montanari representa essa rede suicida com jovem escondidos atrás de cartazes em uma luz predominantemente verde, reconstruindo diálogos possíveis. Com interpretações neutras, os jovens passam as indicações como se fossem receita de bolo, apresentando “métodos” e discutindo erros e acertos possíveis de cada ato. Há uma beleza macabra na encenação que nos impacta e faz refletir sobre essa espécie de fascínio que a morte parece exercer em pessoas diversas.
É importante que toda a construção metafórica e toda a poesia das músicas do jovem artista morto sejam permeadas pela fala didática desse psiquiatra fictício como uma entrevista que conduz o fio narrativo. Uma forma de trazer à reflexão toda a situação, não nos permitindo gatilhos para que embarquemos também nesse chamado de falsa paz, nos trazendo uma dimensão maior do limiar entre segurar ou empurrar um suicida a beira do abismo.
Com uma encenação minimalista quase centrada no quarto do jovem e nesse espaço indefinido que representa a rede cibernética, o filme traz algumas cenas pontuais que ajudam a reforçar a angústia e vazio de Yonlu, como as cenas do colégio, em que as carteiras vazias preenchidas apenas pelos sons dos colegas e professor. Uma forma de baratear a produção também, é verdade, mas que acaba construindo um efeito estético extremamente eficaz.
Os pais também aparecem em algumas poucas cenas, tirando o mito de que o suicida não encontra apoio em casa. A doença, traiçoeira, às vezes dribla qualquer atenção dos familiares ou mesmo dos médicos que o acompanham, buscando o mínimo apoio para cometer o ato. Nesse ponto, a internet fornece não apenas as armas, como uma espécie de corrente negativa que ensina que aquele é mesmo o único caminho.
Yonlu é um filme poético que consegue tratar de um tema tão denso com uma certa leveza, mas sem esquecer de dar o seu alerta. Uma homenagem a um artista, apresentando sua obra, mas também lamentando sua partida prematura.
Yonlu (Yonlu, 2018 / Brasil)
Direção: Hique Montanari
Roteiro: Hique Montanari
Com: Thalles Cabral, Nélson Diniz, Douglas Florence
Duração: 88 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Yonlu
2018-09-14T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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