
Cinebiografias são sempre missões delicadas. Dar conta da trajetória pessoal e do mito construído é sempre uma tarefa árdua para roteiristas e diretores, principalmente se temos em mãos um artista como Freddie Mercury e a banda Queen. Diante da difícil missão, Bryan Singer acaba optando por uma solução conservadora, guiada pelas músicas mais marcante de suas carreiras e pouco aprofundando sua intensa personalidade.
Há na escolha uma espécie de fan service, ainda que os fãs mais apaixonados possam se irritar com mudanças cronológicas de acontecimentos e músicas e outras adaptações que vão sendo feitas no caminho. Há uma estrutura coerente, ainda que pouco criativa de contar a trajetória de uma das bandas mais importantes do cenário mundial. Abrindo e fechando com o show do Live Aid ele consegue passar a força da banda e suas músicas.

Os demais integrantes do Queen, Brian May, Roger Taylor e John Deacon também são pouco desenvolvidos, estando lá mais como funções dramáticas diante da trajetória da banda. Isso reforça os holofotes sobre Freddie, algo que fica bem marcado em uma coletiva de imprensa, porém empobrece a própria relação de bastidores, as brigas, as composições e a própria essência do que estavam fazendo.

Ainda que com alguns problemas de montagem das cenas reais com as gravações, a câmera de Bryan Singer brinca com o palco, com a performance do artista e com a plateia de uma maneira fluída que nos faz sentir a emoção do momento. Os gritos, as palmas, o canto. Os momentos mais emocionantes são quando percebemos a força do Queen e sua capacidade de fazer a plateia se manifestar. Seja cantando Love Of My Life no Rock in Rio ou We are the champions no Live Aid, por exemplo.
Agora, claro, o momento chave da obra acaba sendo Bohemian Rhapsody, sua composição, a discussão sobre lançá-la ou não, as críticas e a consagração. A força de um hino que marcou e moldou aqueles artistas e a história da música mundial. Não por acaso é o nome escolhido para dar título ao filme.
Bohemian Rhapsody pode não ser a cinebiografia que o Queen merecia, mas é uma forma honesta de homenagear a banda e o artista, com muita música e um vislumbre de seu talento. Vale a experiência sendo ou não fã.
Bohemian Rhapsody (Bohemian Rhapsody, 2018 / Reino Unido)
Direção: Bryan Singer
Roteiro: Anthony McCarten
Com: Rami Malek, Lucy Boynton, Ben Hardy, Joseph Mazzello, Mike Myers, Gwilym Lee, Aidan Gillen, Allen Leech, Tom Hollander, Aaron McCusker
Duração: 134 min.