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Infiltrado na Klan


Parece mentira, mas, em 1978, um policial negro do Colorado conseguiu se tornar membro da Ku Kluk Klan. Ron Stallworth teve a ideia de se infiltrar através do telefone, discutindo e ganhando a confiança dos líderes locais e do líder nacional do grupo. Quando precisou encontrar pessoalmente, treinou um colega branco que se fez passar por ele e, com isso, conseguiu sabotar algumas ações racistas.

Spike Lee reconta essa história com um tom farsesco que combina com o absurdo que parece. Há ironia em cada diálogo, situação e uma construção caricata típica do gênero, mas que traz uma profundidade cênica na reflexão do que tudo aquilo significa, ainda mais em uma época em que Donald Trump é o presidente dos Estados Unidos.

Associado à saga de Ron, interpretado por John David Washington, e seu parceiro Flip Zimmerman, interpretado por Adam Driver, o roteiro aborda a luta dos Panteras Negras, encabeçada no filme pela personagem Patrice Dumas, interpretada por Laura Harrier que se torna interesse amoroso de Ron. Porém, há uma construção paralela das reuniões, com falas de alguns líderes que ajudam a não deixar essa trama vazia, como poderia correr o risco.

A escolha de assumir Flip como um judeu também traz reflexões extras, já que na História isso não fica tão claro. O fato do homem branco que nunca se percebeu como judeu, nem mesmo sentiu preconceito em sua vida, começar a refletir sobre isso após sua incursão no grupo demonstra que a situação é mais profunda do que parecia, nos dando cenas fortes, como a tentativa de inquisição no galpão.

Spike Lee traz referências cinematográficas para a tela que colaboram para a reflexão e crítica que a obra propõe. A cena de abertura já traz uma cena ícone de E O Vento Levou, quando Scarlett procura pelo médico dos confederados em meio a um chão de soldados feridos. Há simbolismos diversos nessa escolha. Primeiro na confirmação de que o Sul estava perdendo a guerra, segundo na própria situação alheia da protagonista (e muitos dos sulistas) que ainda não estavam entendendo a situação já que ela queria o médico para fazer o parto de Melanie. E, claro, a derrota do sul na guerra foi um dos motivadores da criação do grupo racista.

Outro momento, é quando eles assistem ao filme O Nascimento de uma Nação, dirigido por D. W. Griffith. Marco da linguagem cinematográfica, o filme é também o símbolo do racismo estadunidense apresentando a criação da Ku Kluk Klan e construindo uma imagem caricata dos afro-descendentes, inclusive utilizando atores brancos com blackface, tornando suas imagens grosseiras. Exagerando no tom, o filme constrói uma sessão de horrores e traz um enquadramento impactante, deles na sala, tendo Ron ao fundo, vendo tudo escondido.

E, por fim, ele traz a estética do Blaxploitation em momentos chaves, como uma cena que envolve Ron e Patrice. Símbolo da resistência e auto-afirmação black, o movimento iniciado nos anos 70 influenciou cineastas como o próprio Spike Lee e casa com o tom farsesco da trama.

Ainda que com temática séria e densa, principalmente para os tempos que vivemos, Infiltrado na Klan acaba sendo um filme divertido. Constrói sua trajetória a partir da farsa, mas conduzindo a reflexões profundas sobre a América, sua história, seus preconceitos e sua capacidade de resistência.


Infiltrado na Klan (BlacKkKlansman, 2018 / EUA)
Direção: Spike Lee
Roteiro: Charlie Wachtel, David Rabinowitz, Kevin Willmott e Spike Lee
Com: John David Washington, Adam Driver, Laura Harrier, Alec Baldwin, Robert John Burke, Isiah Whitlock Jr.
Duração: 135 min.

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