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Roma
Roma
Entre polêmicas e prêmios, Roma vem construindo uma carreira sólida desde sua estreia no Festival de Veneza, de onde saiu com o Leão de Ouro. Foi barrado em Cannes, passou por outros festivais importantes, estreou no cinema em sessões especiais e reacendeu a discussão sobre o streaming.
Independentemente de sua plataforma, no entanto, é impossível negar a qualidade técnica da obra. Há um efeito estético proposital na fotografia em preto e branco, assim como no tom da obra que flerta com o neorrealismo italiano. Talvez por isso, o título Roma, que se refere a um bairro na cidade do México onde a trama acontece, mas que também pode nos remeter à capital italiana e ao clássico de Rossellini, Roma, cidade aberta, marco do movimento.
Ainda que a fotografia, a montagem, a mise-en-scène traga um exercício complexo de linguagem que tem se tornado uma das marcas de Alfonso Cuarón, Roma chama a atenção por suas personagens. Em especial, Cléo, a protagonista, empregada de uma família de classe média local na década de setenta.
Em determinada cena, Cléo vai chamar o garotinho Pepe e ele diz que não vai porque morreu em decorrência de uma brincadeira. Cléo, então, se deita também, cabeça com cabeça com ele, entrando na imaginação. Depois de alguns segundos ela diz que é bom estar morta. E diz isso muito antes de todos os conflitos que vamos acompanhar daquela personagem. Isso resume um pouco a personagem e o efeito de angústia que a obra busca causar na plateia.
Roma é uma espécie de tragédia moderna onde não há redenção para suas personagens, nem mesmo heróis capazes de salvar ou mocinhas de serem salvas. Não é exatamente uma homenagem do diretor à sua “babá” como muitos tem dito. Cléo não parece feita para ser admirada ou para que busquemos identificação. Como bem definiu a diretora Gabriela Amaral Almeida, é uma espécie de Macabéa de A Hora da Estrela.
Sua presença incomoda e nos toca pela espécie de inércia diante do sofrimento, uma certa resiliência diante da certeza de que nada ali mudará de fato. Ela é a empregada que tem que estar pronta para servir, mesmo quando passa por problemas pessoais. A quase da família que pode ser “convidada” a viajar com eles e que “não irá trabalhar”, mas tem que estar sempre alerta e sendo capaz de servir.
A câmera de Cuarón busca essa mulher e essa família de uma maneira ímpar, nos passando essas sensações de maneira grandiosa e angustiante como a cena da praia ou a do hospital, mas também em cenas simples e pontuais como um suco pedido no momento de assistir a televisão, ou uma vitamina que precisa ser feita.
O filme não parece querer levantar bandeiras, julgar atitudes, nem mesmo discutir questões de classe ou relações humanas. Apresenta uma constatação dura e fria da realidade, quase como se quisesse documentar lembranças e impressões de sua infância. E faz isso com uma habilidade técnica e estética tão grande que só nos resta admirar o belo trabalho. Seria bom vê-lo na tela grande, é verdade, mas a televisão não tira o mérito artístico do que se vê impresso em suas imagens.
Roma (Roma, 2018 / México)
Direção: Alfonso Cuarón
Roteiro: Alfonso Cuarón
Com: Yalitza Aparicio, Marina de Tavira, Diego Cortina Autrey
Duração: 135 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Roma
2019-01-05T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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