
Em Moonlight, Barry Jenkins chamou a atenção do mundo, não apenas por vencer o Oscar no lugar do favorito La La Land ou pela sensibilidade do tema, mas pelo trabalho de cores, da força do azul em tela e a maneira como transmitia sentimentos e sensações, toda a tristeza e solidão do seu protagonista.
Em Se a Rua Beale Falasse a fotografia é mais vibrante, colorida, mas isso não quer dizer necessariamente tratar-se de um filme mais leve. Há uma história de amor como mote, apoio e suporte para os protagonistas, mas o sofrimento e preconceito continuam puxando a reflexão e tom da obra.

O roteiro não linear vai intercalando os tempos, trabalhando o romance dos dois, a situação que antecede a acusação e as possíveis pistas do porquê do testemunho do policial entre outras dificuldades e preconceitos que o casal teve que enfrentar ao procurar uma casa para morar, entre outras coisas.

Chama a atenção o fato de que a vítima do crime do qual Fonny está sendo acusado é também estrangeira. E que sua dor e o que ela seja pouco importa para o caso. O agente da situação é o policial branco, que historicamente se acostumou a inferiorizar o negro e não gosta de ter o seu orgulho ferido.
Construções que vão sendo feitas em tela para contextualizar a situação, mas que também não tiram o holofote do que verdadeiramente importa ali, a dor do jovem casal, a busca da família por apoiá-lo, em especial, a mãe de Tish em uma ótima interpretação de Regina King.
Ainda que não tão potente esteticamente quanto Moonlight, Se a Rua Beale Falasse só reforça o talento de Barry Jenkins. Uma obra sensível, que emociona e faz pensar com a mesma força e urgência.
Se a Rua Beale Falasse (If Beale Street Could Talk, 2019 / EUA)
Direção: Barry Jenkins
Roetiro: Barry Jenkins
Com: KiKi Layne, Stephan James, Regina King, Colman Domingo, Teyonah Parris, Michael Beach
Duração: 119 min.